Título: O caos anunciado da Barra
Autor: Marcus Quintella
Fonte: Jornal do Brasil, 04/04/2005, Outras Opiniões, p. A11

No início do século passado, por volta dos anos 30, a região da Barra da Tijuca já figurava como a melhor opção para a expansão urbana da cidade do Rio de Janeiro e havia o consenso de que sua ocupação não deveria ocorrer de forma desordenada, pois possuía uma natureza abundante e bela. Décadas mais tarde, em 1969, durante o governo Negrão de Lima, foi lançado o Plano Lúcio Costa, que pretendia controlar a expansão urbana da área entre a Barra da Tijuca, o Pontal de Sernambetiba e Jacarepaguá, além de preservar as belezas do lugar, como praias, dunas, restingas, manguezais e lagoas.

Na época, Lúcio Costa acreditava que a Barra seria, em pouco tempo, o novo centro metropolitano e, por isso, deu grande atenção às vias de circulação, que deveriam possuir ligação com toda a cidade.

No início da década de 70, a Barra era uma região basicamente residencial, com famílias que moravam lá, mas trabalhavam e estudavam fora do bairro. Decorreram anos, e as previsões de Lúcio Costa começaram a se concretizar, quando, a partir do final dos anos 80, a região assumiu a função de um novo centro metropolitano e passou a exercer um forte poder de atração de viagens, em virtude da construção de edifícios comerciais e centros empresariais, da multiplicação dos shopping centers, da transferência de sedes de grandes empresas, da construção de parques temáticos e da recente chegada das grandes redes de hotéis.

Atualmente, a situação do trânsito e do transporte público na Barra pode ser considerada gravíssima e as expectativas para o futuro não são muito otimistas. Apesar do surgimento incessante de projetos para solucionar os problemas de transporte da Barra, nada vem sendo efetivamente feito. Os projetos imaginados e ainda encravados no papel são os seguintes: Transpan, ligação por trilhos entre a Barra, os aeroportos e o Centro; Bondes da Barra; três anéis viários internos, do Jardim Oceânico ao Recreio; Corredor T5, da Barra à Penha, fazendo a interligação com os trens da SuperVia e a Linha 2 do Metrô; Linha 4 do Metrô, ligando Barra, Gávea e Botafogo; Túnel da Grota Funda, ligando a Barra ao Recreio; duplicação da Auto-Estrada Lagoa-Barra; e Via Parque, paralela à Avenida das Américas. Cabe ressaltar que tais projetos são interessantes, mas o fato de possuírem diferentes paternidades políticas impede que sejam implementados de forma sistêmica e integrados entre si.

Entretanto, apontar uma solução para o problema de transporte da Barra seria uma ousadia de minha parte, mas sugerir a adoção de um plano único e integrado, com a participação da sociedade envolvida, poderia ser uma recomendação prudente. Além disso, definir prioridades também seria uma atitude sensata, visto que seria praticamente impossível executar todos os projetos simultaneamente, face aos grandes investimentos envolvidos.

Desta forma, como sugestão de projetos para a Barra, penso que a prioridade zero, para início até o final deste ano, deveria ser dada ao pacote formado pela construção da Linha 4 do Metrô, a duplicação da Lagoa-Barra e a reorganização do sistema de ônibus urbano com origem e destino na Barra, com a criação de linhas-tronco segregadas na Av. das Américas e Av. Ayrton Senna e linhas de micro-ônibus e vans alimentadoras das linhas-tronco e das estações do metrô, bem como linhas circulares internas. Mais adiante, talvez daqui a quatro anos, a prioridade passaria para a construção da Linha 6 do Metrô, passando por Jacarepaguá, Madureira, Irajá e Penha, em conjunto com a implantação do trecho Estácio-Carioca e de um sistema de bondes para o Recreio e Santa Cruz, integrado com as Linhas 4 e 6. Finalmente, num futuro mais distante, poderia ser pensada a transformação do Aeroporto de Jacarepaguá no terceiro aeroporto da cidade, com capacidade para receber alguns vôos da Ponte Aérea Rio-SP e outros vôos regionais.

Certamente, a solução definitiva dependerá de vontade política e da pressão permanente da sociedade para que projetos integrados e tecnicamente corretos possam gerar benefícios públicos de longo prazo, para que a Barra não seja transformada, em pouco tempo, num esplêndido caos anunciado.