Correio Braziliense, n.20579, 26/09/2019. Brasil. p.8

Setores devem de integrar
Cláudia Dianni 
Maria Eduarda Cardim 
Vera Batista



Vera Valente, diretora executiva da Federação Nacional de Saúde Complementar (FenaSaúde), afirmou ontem que o desafio do momento na saúde complementar, não apenas no Brasil, mas no mundo, é sustentabilidade. Isso ocorre devido à quantidade de novas tecnologia e de procedimentos disponíveis, de um lado, e cada vez menos recursos, de outro, para incorporar as novidades na oferta dos serviços, além de mudanças no perfil dos usuários, por causa do envelhecimento da população.

Durante o painel Planos de Saúde: mais opções, mais cuidados, mais saúde, do Correio Debate Saúde suplementar: consumo e responsabilidade, ela defendeu uma maior integração entre os sistemas públicos e privados de saúde. “A saúde complementar se preocupa com o Sistema Único de Saúde, que perdeu 19 mil leitos nos últimos anos. Pelo lado da saúde complementar, perdemos 3 milhões de beneficiários desde 2015, e isso é ruim para todos, pois esses usuários vão todos para o sistema público, que está sobrecarregado”, disse.

Para Vera, o setor enfrenta vários desafios estruturais. Um deles é a questão demográfica. “A pirâmide está invertida. Dobrou a população com mais de 60 anos nos últimos anos, uma população que vai precisar de mais cuidados médicos”. Outra mudança é com relação à expectativa de vida, que aumentou. Uma das soluções que ela aponta é focar mais na atenção primária, como em médicos de família e em prevenção. “É preciso mudar o foco da doença para a manutenção de saúde”. Para ela, essa mudança pode reduzir em até 80% o uso dos planos.

Como ela, o coordenador-geral da Secretaria Nacional do Consumidor do Ministério da Justiça (Senacon), Andrey Freitas, vê, no trabalho conjunto dos setores público e privado, uma forma de enfrentar os desafios. “Parece que, por questões históricas, há uma separação dos dois sistemas. Historicamente, tratamos no Brasil o serviço público como algo destinado a pessoas de baixa renda. Essa visão enviesada dificulta uma ação complementar e cria um desperdício de recursos no sistema de saúde.”

“Todos têm que fazer sua parte para promover uma mudança cultural na assistência à saúde. O consumidor tem que melhorar o autocuidado, a prevenção e o uso racional do sistema; as operadoras precisam investir em novos modelos, na qualidade, no combate a desperdícios, e em novos modelos de remuneração e em assistência básica; a regulação precisa ser modernizada e o governo tem que fortalecer o SUS para uma coexistência harmônica e cooperativa entre os dois sistemas”, disse Vera Valente.

Para Lenise Barcellos de Mello Secchin, chefe de gabinete da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), a integração é fundamental. “A saúde é uma só. Por uma questão de organização, separamos em pública e privada, mas elas coexistem. Temos, sim, que melhorar a integração das duas, porque, hoje, o custo é muito alto e recai no bolso de todos nós”, assinalou.

Emmanuel Lacerda, gerente executivo da Unidade de Saúde e Segurança da Confederação Nacional da Indústria (CNI), considera que a falta de uma efetiva gestão em saúde causa prejuízos que poderiam ser evitados. “Para cada 100 habitantes, nós perdemos 30 anos da capacidade de vida produtiva (SK)