Correio Braziliense, n.20577, 24/09/2019. Política. p.

Equilíbrio, mas com críticas
Rodolfo Costa 



No discurso que fará hoje na ONU, o presidente Jair Bolsonaro não deve fazer ataques nominais a desafetos, como o presidente da França, Emmanuel Macron. Não faltará, contudo, críticas veladas aos chefes de Estado europeus, que ele julga terem interesse de inviabilizar o agronegócio brasileiro por meio da ampliação de terras demarcadas para reservas ambientais, indígenas e quilombolas.

A meta do governo é defender a soberania sobre a região amazônica brasileira com uma postura mais ponderada. A expectativa é de que Bolsonaro use a oportunidade para arrefecer as críticas feitas até o momento, mas mantendo o cerne da retórica de que não foi o discurso dele e as políticas adotadas que estimularam os incêndios na Amazônia. Reconhecerá, contudo, a importância e a relevância da agenda em defesa do meio ambiente e ressaltará operações conduzidas para mitigar os efeitos das queimadas.

Os interlocutores do governo se debruçaram na montagem de um discurso com uma retórica menos voltada para contestar os números e mais para reconhecer que existe, sim, algum problema. Especialistas preveem, contudo, que ele deixará claro que o governo tenta mediar a questão e minimizar o desgaste que algumas declarações mais exacerbadas causaram ao Brasil.

Venezuela

A presença de aliados do autodeclarado presidente venezuelano Juan Guaidó na delegação brasileira indica, contudo, um forte indicativo de posicionamento contrário ao ditador Nicolás Maduro. A expectativa é de que o discurso encontre amparo em outros líderes das Américas do Sul, Central e do Norte. Não à toa, os governos de Argentina, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Guatemala, Honduras, Panamá, Paraguai, Peru e membros opositores ao regime de Maduro assinaram nota em tom crítico à política venezuelana.

Por esse motivo, o cientista político Lucas Fernandes, consultor de análise política da BMJ Consultores, acredita que Bolsonaro vai reforçar a posição de reconhecimento à legitimidade de Guaidó. “Apesar de (ele) não ter poderes práticos, vai reconhecer a legitimidade enquanto governante, e deve apresentar um discurso forte em relação a isso”, ponderou.

O Ministério das Relações Exteriores avaliou os impactos que o discurso sobre a Amazônia pode causar do ponto de vista comercial. O governo teme boicote a marcas e produtos brasileiros. “O governo está ciente de que é importante fazer um bom discurso em decorrência desses impactos. Bolsonaro deve ser alvo de uma série de protestos”, ponderou Fernandes.