Título: Lula antecipa envio de tropas ao Rio
Autor: Luciana Otoni e Florença Mazza
Fonte: Jornal do Brasil, 04/04/2005, Rio, p. A13

Chacina na Baixada Fluminense adiantou a chegada de equipe policiais da Força Nacional de Segurança ao estado

O governo federal decidiu antecipar o envio da Força Nacional de Segurança Pública para o Rio, devido à chacina ocorrida na Baixada Fluminense, onde 30 pessoas foram assassinadas na noite de quinta-feira. Uma equipe de 400 a 600 policiais chega ao estado nos próximos dias, por determinação do Ministério da Justiça. A decisão foi tomada ontem, numa reunião entre o ministro Márcio Thomaz Bastos e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na Granja do Torto, em Brasília. O envio da Força Nacional ao Rio já vinha sendo negociado. O governo federal aguardava apenas o término das obras nas instalações do Batalhão das Operações Especiais (Bope), onde as tropas serão treinadas, mas decidiu antecipar a iniciativa em função do massacre.

- A chacina ocorreu de forma gratuita para desafiar o Estado. O governo determinou que o crime seja decifrado e que os responsáveis sejam punidos com dureza - reforçou Thomaz Bastos.

As tropas da Força Nacional são formadas por policiais militares de elite integrantes da Guarda Especial e seguirão para o Rio ainda esta semana para reforçar o combate à violência e auxiliar na localização dos responsáveis pela chacina. Segundo o ministro, não se trata de uma força-tarefa. A equipe que será enviada é formada por policiais militares de diferentes regiões do país, treinados em Brasília para enfrentar situações de emergência e atuar como multiplicadores de técnicas de segurança em suas cidades de origem.

Durante a reunião de ontem, o ministro da Justiça comunicou ao presidente Lula que uma testemunha secreta procurou a Polícia Federal (PF) e identificou PMs que participaram da chacina. A PF apura o envolvimento de quatro policiais no massacre. Segundo Thomaz Bastos, a identificação dos quatro suspeitos não representa o fim das investigações.

- Não se pode dizer que o crime está desvendado, mas é um caminho bem seguro que agora precisa ser confirmado pelo resto das investigações - declarou.

A Secretaria Estadual de Segurança Pública estranhou a antecipação da chegada das tropas. Por meio da assessoria de imprensa, declarou que o acordo feito com a Secretaria Nacional de Segurança Pública determinava que o treinamento dos policiais seria feito pelo Bope. A instituição ainda aguarda o envio de verbas do governo federal para adequar sua infra-estrutura às tropas.

Apesar da declaração da secretaria, Ricardo Bruno, secretário estadual de Comunicação Social, disse que não há oposição do governo estadual à chegada da Força Nacional. Até a noite de ontem, a União não havia comunicado oficialmente a decisão do Ministério da Justiça.

- O governo estadual tem trabalhado com a PF há algum tempo. Nos últimos três meses houve várias operações conjuntas. O Rio já faz parte da Força Nacional - afirmou Ricardo Bruno.

Thomaz Bastos lembrou que o governo federal tem mantido diálogo com a governadora Rosinha Matheus e o secretário Marcelo Itagiba.

- Estamos o tempo todo trabalhando em cooperação e parceria. Acho que esse é o segredo do êxito - declarou o ministro da Justiça.