Título: PF prende mais dois policiais militares
Autor: Florença Mazza e Waleska Borges
Fonte: Jornal do Brasil, 04/04/2005, Rio, p. A13

A Polícia Federal prendeu ontem dois policiais militares do 24º BPM (Queimados) por suspeita de participação no massacre de 30 pessoas na Baixada Fluminense. Entre os PMs, está o cabo José Augusto Moreira Felipe, 32 anos, que já tinha sido preso administrativamente por 72 horas, a pedido da 58ª DP (Nova Iguaçu). As investigações federais também chegaram a outros três militares suspeitos da chacina: o soldado Ivonei de Souza, conhecido como Sandro, um PM que o nome ainda está sendo mantido em sigilo e há um outro policial foragido. Os agentes federais já têm pelo menos 10 suspeitos de envolvimento na chacina. Segundo o superintendente regional da Polícia Federal no Rio, delegado José Milton Rodrigues, o cabo e o soldado, foram reconhecidos por uma testemunha através de fotografias. O delegado vai pedir à Justiça a prisão temporária dos policias, por 30 dias. Segundo informações obtidas ontem, o PM foragido estaria na Região Serrana. Policiais federais estiveram na casa dele, por volta das 3h30, mas o PM não foi encontrado.

- Os policiais estariam ligados a grupos de extermínio de diferentes batalhões da baixada - disse Rodrigues.

Desde sábado, seis policias militares foram identificados pelas polícias Civil e Federal. Apenas um deles está foragido. Entre os presos, estão o tenente Roberto Assis de Carvalho, chefe do serviço reservado, e o soldado Fabiano Gonçalves, 30 anos, ambos do 24º BPM. Para fechar o cerco aos responsáveis pelo crime, policias ligados à investigação do massacre estiveram reunidos, durante todo dia de ontem, numa espécie de QG, na sede da Polícia Federal na Baixada. Por determinação do secretário de Segurança Pública, Marcelo Itagiba, a 1ª Delegacia Judiciária da Polícia Militar, o Comando de Policiamento da Baixada e o subsecretário de Planejamento e Integração Operacional, delegado Paulo Souto, acompanham as investigações federais.

- A Polícia Federal não está concorrendo com a Civil para chegar na frente. Nossa intenção é contribuir com as autoridades - garantiu Rodrigues.

Ontem, cerca de 40 policiais foram mobilizados para cumprir mandados de prisão expedidos pelo juiz de plantão da Vara Cível de Caxias, Maxwel Rodrigues. Os policiais federais estiveram nas casas dos possíveis envolvidos na chacina e no 24º BPM. Nas diligências, foi apreendido o Vectra Branco, placa LBY 1015, que estava com um policial militar. O carro seria parecido com os veículos usados pelos assassinos descritos pelas testemunhas.

- O caso é muito grave e de comoção nacional e repercussão internacional, que traz implicações financeiras e de direitos humanos - diz o delegado.

O soldado Fabiano Gonçalves também voltou a ser identificado ontem como um dos participantes da chacina Em Nova Iguaçu e Queimados. A mesma testemunha que já havia feito o reconhecimento do PM na 58ª DP (Posse), na noite de sábado, confirmou a identificação no Fórum de Duque de Caxias.

O deputado estadual Alessandro Molon (PT), da Comissão de Direitos Humanos da Alerj, explicou que a identificação do fórum serve como produção antecipada de prova, mesmo que o processo ainda não tenha chegado à Justiça.

Molon vai apresentar amanhã dois projetos de lei na Alerj referentes à participação de policiais em crimes. O primeiro prevê a pensão para familiares de vítimas de crimes cometidos por agentes do estado, desde que confirme-se a dependência econômica dos parentes. O segundo prevê o afastamento cautelar de policiais acusados de crimes ou que sejam alvo de sindicância.

- Hoje, o policial continua trabalhando, com sua arma e distintivo, mesmo sob investigação, o que representa um perigo para a sociedade - disse Molon.

Na manhã de hoje, policias que investigam o caso participam de uma reunião na Secretaria de Segurança Pública.