Correio Braziliense, n.20734, 28/02/2020. Política, p.3

Presidente critica Congresso

Ingrid Soares


O presidente Jair Bolsonaro negou ter incitado manifestações contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso, mas voltou a criticar o parlamento. Ele reclamou que medidas provisórias — com a da carteira estudantil e a que dispensava empresas da obrigatoriedade de publicar balanços em jornais — não foram votadas e acabaram caducando. “Alguns falam que eu não tenho uma articulação com o Congresso. Eu realmente não consigo aprovar o que eu quero lá e até gostaria que fosse botado em pauta muita coisa, mas não é botado em pauta”, criticou. “É o outro poder que você tem que respeitar. É a regra do jogo. Mas eu gostaria, por exemplo, que a nossa MP da carteira digital estudantil não caducasse. Não foi colocada em pauta, acabou o tempo. Quem quiser a carteirinha de estudante vai ter de pagar R$ 35.”

Bolsonaro afirmou também que projeto de lei regulamentando a mineração e a geração de energia elétrica em terras indígenas não terá prosseguimento. “O PL dando direito ao índio de ser um cidadão igual a você, igual a mim, lamentavelmente, pelo que estou sabendo, a Câmara não vai botar em pauta nem vai discutir”, ressaltou. “Gostaria de fazer muita coisa pelo Brasil, mas estou há seis meses com um projeto de lei dentro da Câmara para que a validade da carteira de motorista passe de cinco para 10 anos, mas não vai para a frente.”

O chefe do Executivo mencionou outro texto encaminhado ao Congresso e, segundo ele, igualmente ignorado. “Eu estou há seis meses com um projeto fazendo com que você perca a sua carteira depois de completar 40 pontos no ano, e não 20, como é atualmente, dada a quantidade de radares no Brasil, radares fixos, uma quantidade enorme. Quem trabalha nas estradas, o caminhoneiro em especial, perde, incorre nos 20 pontos rapidamente”, frisou. “Eu quero passar para 40, que tem pardal que está escondido. Buscamos eliminar isso daí, a Justiça foi contra a gente. A mesma coisa os radares móveis, a Justiça contra a gente. Eu não sei o que passa. Vamos respeitar a decisão judicial, mas será que essas pessoas não entendem que há um exagero no Brasil nessas áreas? E parece que eu não posso mudar nada.”

Apesar das reclamações, Bolsonaro disse que não ofende o Congresso, “muito pelo contrário, quero um parlamento independente e atuante, e a Justiça também, independente e atuante”. “Não existe qualquer crítica a eles, agora, eu tenho de dar uma satisfação, porque, na ponta da linha, o povo cobra muito mais de mim do que do Legislativo ou do Judiciário.”

O comandante do Planalto garantiu que busca o entendimento com o Congresso. “Estamos cada vez mais próximos de chegar a essa união”, destacou. Ele negou que tenha fomentado manifestações contra o parlamento e o STF. “Os presidentes de poderes, não vi nenhum falar sobre essa questão do dia 15, que eu estaria estimulando um movimento contra o Congresso e o Judiciário. Não existe isso. Não falaram porque não existe. Agora, nós não podemos nos envenenar com essa mídia podre que nós temos aí, em grande parte, podre.”

Segundo ele, a imprensa o ataca em represália à diminuição de verbas do governo para a publicidade. “Não vou renunciar ao meu mandato, não vou dar dinheiro para imprensa. Acredito que estou fazendo um trabalho bom, na medida que eu posso”, enfatizou.

Frase

“Alguns falam que eu não tenho uma articulação com o Congresso. Eu realmente não consigo aprovar o que eu quero lá e até gostaria que fosse botado em pauta muita coisa, mas não é botado em pauta”

Jair Bolsonaro, presidente da República