Correio Braziliense, n. 20638, 24/11/2019. Artigos, p. 11

A ciência como alavanca do progresso

Enedino Corrêa da Silva


O Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) é líder do fomento à pesquisa no país, inclusive complementando atividades de ciência e tecnologia (C&T;) de importantes instituições nacionais, com bolsas de pesquisa para funcionários, como pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Tanto o CNPq quanto a Embrapa lutam por recursos no sentido de tirar o Brasil do atraso no campo da ciência.

Cada campo de estudo tem linguagem própria e maneira particular de pensar. Os matemáticos falam dos axiomas, integrais e espaços vetoriais. Os estatísticos falam de probabilidades, distribuições, delineamentos e testes de hipótese. Os psicólogos falam de ego, id e dissonância cognitiva. Os advogados falam de jurisdição, delito e embargo promissório. Os economistas falam de oferta, demanda, elasticidade, vantagem comparativa e excedente do consumidor.

Contudo, nenhum campo apresenta amplitude tão vasta como a do pesquisador agrícola. Além da área específica de conhecimento, ele necessita ter boas noções de outras muitas áreas de estudo. Isso acontece com instituições como a Embrapa. O pesquisador agrícola trata seu campo de estudo com a objetividade de um cientista. Ele encara o seu campo de forma muito semelhante à de um físico quando estuda a matéria ou de um biólogo quando estuda a vida. Formula teoria, produz e coleta dados e depois os analisa para confirmar ou refutar suas teorias. Orienta-se pelo procedimento geral da ciência para a aquisição do conhecimento.

A direção do CNPq reconhece esse fato, bem como os governos que se seguem, e concluem da complexidade da pesquisa e de quanto conhecimento e imaginação precisa ter o pesquisador, dada a vasta amplitude de áreas correlatas. Como bem cita no artigo “Ciência e cientistas conectados com o mundo”, publicado neste jornal, o colega Maurício Antônio Lopes demonstra extremo conhecimento sobre pesquisa agrícola: “As relações entre cientistas e instituições nacionais e internacionais são uma necessidade que aflora o mundo atual”.

O progresso da ciência tem permitido o desenvolvimento e o aperfeiçoamento de métodos, técnicas e instrumentos que têm tido relevante influência sobre o próprio enfoque da pesquisa. Por exemplo, o enfoque sistêmico na pesquisa requer a composição de equipes multidisciplinares e a atuação interdisciplinar das equipes, organizadas em torno de projetos sob a liderança de pesquisadores competentes que mantêm o interesse e a harmonia para o perfeito funcionamento do trabalho em equipe e de estabelecer os canais de comunicação com a comunidade científica, empresários e assistência técnica.

É de fundamental importância para o desenvolvimento do país que se discutam abertamente, com base científica, as políticas desenvolvimentistas existentes e se sugiram medidas que venham aliviar a grave crise nacional. Considerando as relações internacionais de comércio, a China sobressai como parceira importante, quando 70% das exportações brasileiras para esse país são de produtos agrícolas . No entanto, o intercâmbio não deve ficar apenas nas relações comerciais. Deve também ser no aspecto técnico-científico, com esse país e com todos os que se disponham a se relacionar, especialmente em infraestrutura apoiada pela inteligência artificial visando à sustentabilidade.

Voltando ao Brasil, a Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Industriais (Anpei) divulgou resultados de coleta de dados na indústria. Os números resultam da base de dados sobre indicadores empresariais de inovação tecnológica, que tem como objetivo apoiar o governo e instituições nas decisões de modernização tecnológica, viabilizando o benchmarking. Entre as análises, uma destaca-se tanto do ponto de vista teórico como prático. Diz respeito às possíveis diferenças que poderiam existir entre as empresas mais ou menos inovadoras, relativamente aos perfis de pesquisa, desenvolvimento e engenharia não rotineira (PD&E;).

A conclusão é a de que as empresas mais inovadoras são bem menores, tanto em número de funcionários quanto em faturamento bruto e apresentam evolução maior em relação a anos anteriores, embora sempre registrem proporcionalmente maior lucratividade. A pesquisa foi realizada por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) em colaboração com a Anpei, dentro do que preconiza o CNPq, quando apoia pesquisadores. (...)

ENEDINO CORRÊA DA SILVA
Engenheiro Agrônomo, MSC, doutor

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