Título: Seca faz inflação disparar
Autor: Sabrina Lorenzi
Fonte: Jornal do Brasil, 07/04/2005, Economia, p. A17

Soja e milho puxam alta de 0,99% do IGP-DI

Os efeitos da seca que atingiu o Centro-Sul do país tiveram forte impacto na inflação de março. O Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI), que baliza o reajuste de telefonia, subiu 0,99% no mês passado, mais do que o dobro do 0,40% em fevereiro. Os preços no atacado, com peso de 60% no índice, quase triplicaram, de 0,39% para 1,14% no período, aponta a Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Dentro do Índice de Preços do Atacado (IPA), os alimentos subiram 3,59% em março e acumulam alta de 4,26% no ano. Em fevereiro, o grupo havia subido 1,29%.

As maiores influências de alta o IPA foram soja - que passou de deflação de 7,58% em fevereiro para alta de 15,75% em março -, ovos - cujos preços desaceleraram em relação aos 26% de fevereiro mas tiveram elevação de 10,7% - e milho - que avançou de 0,17% para 10,35%.

O resultado vem em linha com levantamento da safra realizado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) no mês passado. Segundo a Conab, a estiagem causou quebra de 8,3 milhões de toneladas na safra de soja (13,5% do total) e de 3,2 milhões de toneladas de milho (10% do total) em relação ao cálculo de dezembro. A soja e o milho foram as culturas mais afetadas.

O resultado surpreendeu porque tradicionalmente a inflação de março apresenta desaceleração, motivada pelo início da safra da soja e do milho, produtos utilizados em diversos segmentos da cadeia produtiva, alastrando o efeito da queda dos preços dos produtos.

O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) também acelerou no período, de 0,43% para 0,70%. Os maiores impactos vieram das tarifas de ônibus urbano - alta 7,78% depois de recuo de 0,08% em fevereiro - taxa de água e esgoto - de 0,47% para 3,85% - e mamão papaya, de -15,8% para alta de 27,2%.

O Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) variou 0,67%, ante 0,44% de fevereiro.

Para minimizar os impactos da seca sobre os agricultores, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) vai prorrogar o prazo de pagamento das prestações de 2005 referentes ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e da Linha Especial de Financiamento Agrícola. Em duas semanas, mais de 30 mil contratos estão sendo beneficiados. Serão contemplados agricultores cujos empreendimentos foram atingidos por secas que tenham justificado a decretação de estado de calamidade ou de emergência, com reconhecimento do governo federal.

''A iniciativa tem o objetivo de minorar as dificuldades pelas quais estão passando os produtores'', informou o BNDES