Título: Cultivo politicamente correto
Autor: Rafael Rosas
Fonte: Jornal do Brasil, 04/04/2005, Economia & Negócios, p. A19

O presidente da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA), José Francisco Pereira, explica que a certificação atual nas embalagens do café especial comprova a origem e as condições de produção dos grãos, mas não a sua qualidade. Para isso, empresas, organizações e institutos realizam mundo afora concursos de qualidade. A BSCA criou em 1999 o Cup of Excellence, que se destina a selecionar produtos finos e de sabor exclusivo.

Enquanto uma saca de 60 quilos de café tradicional oscila atualmente no mercado internacional em torno de US$ 135 e os café especiais atingem preços cerca de 30% maiores, os vencedores de concursos como o Cup of Excellence conseguem atingir preços ao redor de US$ 100 por quilo.

- Obviamente que os cafés que seguem as determinações de produção da BSCA conseguem naturalmente uma qualidade maior, mas para garantir o mercado externo fazemos esses concursos que comprovam o alto nível do produto - diz, lembrando que as principais regras para o ingresso na associação são o manejo adequado do solo para evitar a degradação e aumentar a capacidade e a longevidade de produção da terra, além do respeito às regras do mercado de trabalho, como a não utilização de trabalho infantil.

Pereira faz questão de assegurar que a metodologia do concurso impede fraudes. De acordo com ele, um programa especial que só pode ser aberto pela companhia de auditoria contratada para fiscalizar a competição troca constantemente os números das amostras e guarda as notas concedidas, o que impossibilita que os juízes provadores favoreçam determinados produtos.

No próximo dia 21 de abril, acontece o leilão dos lotes vencedores do último concurso realizado pela entidade, o Concurso de Cafés Naturaisdo Brasil - Late Harvest, em março.

- Nestes leilões, os preços alcançam patamares muito elevados, mas os lotes vendidos são pequenos - explica Pereira.

Mas não é apenas a BSCA que realiza concursos para atestar a qualidade dos produtos. Sérgio Tristão conta que em 2003, num concurso promovido entre fornecedores da empresa, o vencedor recebeu como prêmio R$ 20 mil, para uma produção de 20 sacas de café.

- A premiação valia mais que a propriedade do vencedor, que era pequena, mas com um produto de altíssima qualidade. O café especial tem sempre um preço melhor, principalmente quando chega ao mercado via concurso.