Correio Braziliense, n. 20707, 01/02/2020. Política, p. 2

Preocupação com o Congresso

Rodolfo Costa


 

O governo espera resolver o quanto antes a situação do ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. Tudo o que o Palácio do Planalto deseja é não iniciar uma relação estremecida com deputados e senadores na volta das atividades do Congresso, na segunda-feira. Por isso, a intenção é mantê-lo, ao menos, durante as primeiras semanas de fevereiro. Existe também a possibilidade de que ele seja remanejado para algum outro posto, que dê visibilidade e permita que contribua com o Executivo. Caso ele consiga fazer isso, interlocutores acreditam que será possível mitigar eventuais impactos da desidratação que sofre.

A Câmara e o Senado, sob a presidência de Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Davi Alcolumbre(DEM-AP), respectivamente, têm a resposta na ponta da língua para o governo, caso Lorenzoni seja rifado sem contrapartidas. Não são esperadas retaliações claras, mas sutis. Como os dois são os responsáveis pelas votações em plenário, consequentemente, também ditam o ritmo das apreciações de propostas de emenda à Constituição (PECs). “As duas Casas vão pressionar o governo para não demitir o Onyx. A depender da forma como isso ocorrer, o Congresso pode travar pautas”, ressaltou um interlocutor parlamentar.

Não apenas os presidentes das Casas, mas também líderes e congressistas influentes de centro atuam para evitar mais frituras a Lorenzoni. Parlamentares têm críticas ao ministro, mas são pragmáticos. Se queixam de promessas impagáveis que fez para a votação da reforma da Previdência, porém sabem que ele é o responsável por dar a assinatura final na nomeação de apadrinhados no governo. A Secretaria de Governo se encarrega de articular a destinação de emendas e cargos, no entanto, cabe à Casa Civil chancelar no Diário Oficial da União.

Os espaços no governo geram ambição entre parlamentares. Para o DEM, por exemplo, ter Lorenzoni na chefia da Casa Civil facilita os detalhes finais para nomeações. Por isso, o partido trabalha para que outra legenda não indique ninguém para o posto. Emedebistas, contudo, garantem que não têm ambição em proliferar no governo. “Para que o MDB vai querer pegar, se a autonomia é reduzida pelas ações e pitacos do Bolsonaro?”, indagou um integrante da legenda. (RC)