O Estado de S. Paulo, n. 46141, 15/02/2020, Política, p. A4

Eventual rompimento com generais poderia levar a crise
Análise: Rodrigo Augusto Prando  


 

Bolsonaro substituiu Onyx Lorenzoni pelo general Braga Netto na Casa Civil. Enfim, o que já se noticiava, o enfraquecimento de Onyx, se confirmou. Agora, outro militar, almirante Flávio Rocha, assume a Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos. A nomeação de Rocha pode ser entendida como busca de racionalidade em detrimento da ala ideológica e olavista do governo. A questão é que no tabuleiro da política há poucos políticos e uma saturação de militares estrategistas, e tal situação pode dificultar o já combalido diálogo com o Congresso.

Há que se destacar que aliados civis, como Gustavo Bebianno ou Joice Hasselmann, foram defenestrados e se tornaram “potes de mágoas”. Sabidamente, pela origem e discurso, o presidente sente-se à vontade com a ala militar, além, obviamente, do núcleo familiar.

A Previdência foi aprovada sem muito empenho do Executivo. Todavia, na agenda se encontram outras importantes reformas que dependerão de diálogo e negociação, ou seja, de política para serem transitadas no Legislativo. Com um discurso, quase sempre, belicoso, Bolsonaro desprezou parlamentares, restando, assim, militares e familiares. Um rompimento com os militares poderia levar o governo à uma crise cujo desfecho é imprevisível. Maquiavel, em O Príncipe, aduziu que “para o príncipe não é de pouca importância saber escolher os seus ministros, os quais bons ou não conforme a sabedoria de que ele usou na escolha”.

Professor do Mackenzie e Doutor em Sociologia pela Unesp