Correio Braziliense, n. 20708, 02/02/2020. Política, p. 3

Onyx diz que crise é página virada


 

Protagonista da mais recente crise política no governo, o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, ganhou sobrevida no cargo. Ontem, após cerca de uma hora de reunião com o presidente Jair Bolsonaro, Onyx afirmou que o trabalho na pasta continuará normalmente. Ele descartou sair da Casa Civil para outra função no governo e disse que a demissão de Vicente Santini, ex-secretário executivo da pasta, é “pagina virada”.

“Tive uma reunião de trabalho com o presidente Bolsonaro e as coisas continuam no seu curso normal. Não conversamos sobre mudança na Casa Civil, falamos sobre a rotina normal no Ministério”, falou, ao sair do Palácio da Alvorada. Houve pressões no Palácio do Planalto e na Esplanada para que Onyx fosse demitido, após a polêmica de Santini e o esvaziamento da pasta.

O ministro confirmou que o Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) deixará a Casa Civil e irá para o Ministério da Economia, como previsto desde o início do plano de governo. Ele lembrou que mudanças de atribuições de ministérios já ocorreram no ano passado, citando o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), que foi da Justiça para a Economia e, posteriormente, para o Banco Central, e a Cultura, que foi do Ministério da Cidadania para o do Turismo.

Questionado sobre se a perda das atribuições na Casa Civil e a demissão de Santini não gerariam incômodos na sua atuação à frente da pasta, ele afirmou que não está em busca de poder e, sim, de “servir ao governo”. “A demissão de Santini é página virada. O presidente Bolsonaro é meu líder. O que o presidente decidir eu cumpro, o que ele comandar, eu faço”, afirmou.

Onyx garantiu que seu trabalho continuará normalmente a partir de amanhã e citou reunião do grupo interministerial sobre o coronavírus, que acontecerá na casa civil às 10h, além de uma reunião com o ministro Paulo Guedes, para tratar da transição do PPI. Ainda na segunda-feira, caberá a Onyx levar ao Congresso a mensagem presidencial de Bolsonaro para a abertura dos trabalhos no Parlamento.

“A mensagem presidencial reafirma o norte do governo que é a redução do tamanho do Estado e os investimentos que têm sido feitos para a digitalização dos serviços aos cidadãos. Reforçaremos nosso trabalho de combate à corrupção. Já recuperamos neste primeiro ano a confiança interna e externa no Brasil. O governo vem fazendo uma série de reformas que começou com a Previdência e está agora com o pacto federativo. A mensagem citará a continuidade das reformas, como a administrativa (que ainda não foi enviada pelo governo)”, completou.

Onyx citou ainda outras atribuições que a Casa Civil continuará tendo, como o trabalho de adesão do Brasil à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e o centro de governo para articulação de projetos do ministério. Sobre críticas à articulação do governo no Congresso, respondeu que o ministro da Secretaria de Governo, general Luiz Eduardo Ramos, tem feito excelente trabalho. “Não conheci governo que não tivesse problemas com o Parlamento. É da relação entre os Poderes em todos os países. O governo precisa ter paciência, resiliência e diálogo. Já aprovamos projetos importantes e vamos continuar esse trabalho”, acrescentou.

Fim de férias

O ministro antecipou o fim das suas férias e retornou sexta-feira dos Estados Unidos para administrar a crise que levou à demissão de Vicente Santini, ex-secretário executivo da pasta, por uso de avião da Força Aérea Brasileira (FAB) enquanto estava à frente da pasta.

Um dos principais nomes da campanha de Bolsonaro, o ministro comandou a transição de governo e assumiu a Casa Civil. No entanto, perdeu força desde o início do mandato do presidente. Deixou de ser o articulador político do Planalto, missão repassada a Ramos em junho de 2019, e perdeu funções.

Além do PPI, também saiu da Casa Civil a Subchefia para Assuntos Jurídicos (SAJ), que analisa a viabilidade jurídica dos atos da Presidência da República. A SAJ foi transferida para a Secretaria-Geral, comandada pelo ministro Jorge Oliveira. Mesmo diante do esvaziamento da pasta, ontem Onyx disse que as atribuições da Casa Civil são “gigantescas”.

O enfraquecimento ocorre após o comportamento de Onyx incomodar não apenas o presidente, mas colegas de Esplanada, que o acusam de fazer a velha política, ao usá-los para atender a demandas do baixo clero do Congresso, e de ter indicado para o governo nomes que viraram dor de cabeça para seu chefe, como o ministro da Educação, Abraham Weintraub.

Frase

“Tive uma reunião de trabalho com o presidente Bolsonaro e as coisas continuam no seu curso normal. Não conversamos sobre mudança na Casa Civil, falamos sobre a rotina normal no ministério”

Onyx Lorenzoni, ministro da Casa Civil