Correio Braziliense, n. 20665, 21/12/2019. Cidades, p. 17

Indústria cresce e atrai investimentos
Alan Rios


A indústria fecha 2019 com bons índices no Distrito Federal. O setor — que representa um Produto Interno Bruto (PIB) de R$ 8,4 bilhões na capital — impulsionou a economia com uma recuperação ainda inicial, mas otimista. É isso que apontam pesquisas divulgadas pela Federação das Indústrias do DF (Fibra), em parceria com a Confederação Nacional da Indústria (CNI). O Índice de Confiança do Empresário Industrial (Icei-DF) de dezembro, por exemplo, chegou a 63,4 pontos. Isso representa um aumento de 2,2 pontos em relação a novembro e um dos melhores resultados do mês na série histórica iniciada em 2010. Outro dado importante é o que mostra a intenção de investimentos para os próximos seis meses. O índice cresceu 17,8 pontos na passagem de novembro para dezembro: o melhor resultado desde 2013. As avaliações mostram boas perspectivas para 2020, pois podem fomentar a atividade e o mercado de trabalho no ano seguinte.

Presidente da Fibra, Jamal Jorge Bittar explica que esse aumento é bom para a sociedade como um todo. “Esses números se refletem no DF de maneira geral, porque costumo dizer que tudo o que atinge a indústria acaba influenciando a sociedade. Temos uma capacidade muito grande de gerar empregos, então, os movimentos desse setor acabam abrindo um guarda-chuva de retornos para os brasilienses”, avalia. Hoje, cerca de 6,9% do emprego formal da capital vem do setor industrial.

Grande parte dessas vagas surge da construção civil, segmento que ganhou destaque no ano. “Esse é um campo que teve números melhores do que a média, e isso é muito positivo. Principalmente porque o tipo de serviço gerado é muito importante. É aquele emprego que dá oportunidade para classes mais pobres, é um gerador primário da economia”, detalha Jamal.

O cenário positivo ainda não é visto com facilidade pela população. A taxa de desocupados no DF é maior do que a média nacional, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O representante da Fibra admite que tal realidade preocupa. “A questão do emprego ainda não teve uma melhora significativa. Está tímida, mas compreensível para o momento. O que temos de lembrar é que as mudanças não são instantâneas. Precisamos incentivar a indústria local com ações continuadas. Muitas melhorias de 2019 só vão ser refletidas em 2020”, ressalta.

Para Jamal, o Governo do Distrito Federal (GDF) está percebendo a importância do investimento. “Ações locais ajudaram mais as indústrias do que as nacionais. O GDF tem honrado os compromissos e ouvido o setor produtivo. Essa mudança de ambiente ajuda, porque o empresário vê efetividade e se sente mais seguro para investir”, acredita. O presidente diz ainda que a expectativa para o ano seguinte é boa, mas pondera: “Não podemos esperar nada excepcional, isso também já seria excesso de otimismo”, ressalta.

Resultados e barreiras

Quem mais observa na prática as mudanças desses números são os brasilienses à frente de indústrias. As últimas pesquisas da CNI mostram que o DF tem 5.093 empresas industriais. Uma delas é a Teletron, que atua comercializando e prestando serviços de assistência técnica nas áreas de telecomunicações e informática há mais de 20 anos na capital. O sócio-proprietário Abraão Belém conta que 2019 foi um ano diferente. “Tivemos resultados melhores do que na última década. Isso é muito bom, percebemos uma melhora significativa. Para se ter ideia, já temos propostas de negócios para janeiro”, comenta.

O empresário diz que as maiores dificuldades dos negócios do setor estão na qualificação de funcionários e nos impostos pagos ao Estado. “Quando vamos fazer uma seleçãopara a equipe, percebemos que não é simples encontrar pessoas com as qualificações necessárias, então, surgem barreiras na hora de filtrar os currículos. Outro problema é que os tributos são altos, e isso eleva custos e inviabiliza negócios. Temos que trazer muita matéria-prima de fora do DF, principalmente do Sudeste do país, e isso pesa”, lamenta. Abraão também afirma que incentivar o setor industrial é benéfico para todos os estados. “Crescendo a indústria, crescem os números de empregos. Vejo, de modo geral, que a economia de um local depende da circulação de dinheiro. Quando isso acontece, todos ganham.”

Projeções

Outra avaliação do empresário é que, em 2020, a expectativa é mais positiva do que negativa. “Neste ano, os governos federal e local reduziram alguns impostos na área da tecnologia, mas não sentimos tanto porque o dólar subiu, então, ficou ‘elas por elas’. Esperamos que, no próximo ano, isso mude. Estamos confiantes principalmente porque nossa demanda tem sido maior em 2019.” Embora reconheça os avanços dos últimos 12 meses, o economista Roberto Piscitelli pede reflexões para análise dos dados. “Temos que ter muita cautela, porque ainda estamos longe de um desempenho satisfatório”, opina.

Na visão do especialista, é inegável que a construção civil, por exemplo, fomente o mercado de trabalho, mas é preciso detalhar como são essas vagas. “Esse é um segmento com capacidade para dar uma maior quantidade de empregos do que outros, mas, às vezes, são serviços temporários, de baixa remuneração”, explica. A pesquisa da Fibra também mostra cautela em alguns pontos. O indicador de expectativa para contratações, por exemplo, diminuiu de 54,6 pontos em novembro para 53,5 pontos em dezembro. Por outro lado, a Federação avalia em documento: “Apesar dos indicadores terem sido revistos, as expectativas ainda são de crescimento para a demanda e para o emprego”.

Construção

É um segmento que sinaliza a intenção de novas contratações em 2020. O indicador de expectativas para número de empregados avançou de 61,9 pontos em novembro para 64 pontos em dezembro. Em relação a dezembro de 2018, também houve aumento: 15,5 pontos.

Números

» Emprega mais de 82 mil trabalhadores

» PIB de R$ 8,4 bilhões (equivalente a 0,7%  da indústria nacional)

» 3,9% de participação no PIB (último dado de 2017)

» Índice de Confiança do Empresário Industrial do DF

 63,4 pontos em dezembro — aumento de 2,2 pontos em relação a novembro

» Indicador de Expectativas

 66,7 pontos em dezembro — aumento de 2,5 pontos em relação a novembro

» Indicador de Condições Atuais

56,9 pontos em dezembro — aumento de 1,7 ponto em relação a novembro

» Indicador de Intenção de Investimento

51,4 pontos em dezembro — aumento de 17,8 pontos em relação a novembro

» Utilização da Capacidade Instalada

70% — melhor desempenho desde dezembro de 2014