O Globo, n. 31555, 29/12/2019. País, p. 13

Senadores já se movimentam para sucessão na casa

Isabella Macedo
Gustavo Maia


O primeiro ano de Davi Alcolumbre (DEM-RJ) no comando do Senado sequer terminou e alguns nomes já começam a despontar para a sua sucessão, que ocorrerá em fevereiro de 2021.

Ligado ao grupo Muda Senado, o líder do Podemos, Alvaro Dias (PR) é citado pelos integrantes do movimento, que tem 21 senadores de diversos partidos e representa a maior “bancada” da Casa. Também próxima do grupo, Simone Tebet (MDB-MS) pode ser um dos principais nomes no páreo, disputando com o atual líder do seu partido, Eduardo Braga (MDB-AM).

Antonio Anastasia (PSDB-MG), que está de malas prontas para o PSD em busca de mais espaço e apoio, também é citado como possível postulante. O próprio Alcolumbre evita se comprometer, mas não esconde a vontade de continuar por mais dois anos, o que dependeria de uma mudança na Constituição.

Atual presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Simone Tebet diz que o debate é precipitado, por enquanto. Aliados relatam constantes manifestações de apoio a ela e apontam a postura moderada da emedebista como ponto importante a seu favor. No início deste ano, a senadora manifestou a vontade de concorrer, mas desistiu após ser preterida em seu partido por Renan Calheiros (AL), que depois foi derrotado por Alcolumbre.


Tradição

A tradição na Casa era que o partido com a maior bancada, hoje o MDB, assumisse a presidência. Entretanto, por ser alvo de investigações na Justiça e um quadro da política tradicional, Calheiros não teve apoio de colegas recém-eleitos com discurso anticorrupção e de renovação política — grupo que posteriormente se uniu no Muda Senado.

Por conta da prática histórica no Senado, o nome de Eduardo Braga também é citado nos bastidores. Questionado em um café da manhã com a imprensa na semana passada, ele desconversou:

— Cada dia com a sua agonia.

Alcolumbre, por sua vez, esbarra no texto constitucional, que proíbe a reeleição dos presidentes da Câmara e do Senado em uma mesma legislatura. Uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) tem sido ventilada para permitir um segundo mandato consecutivo, mas é considerada improvável, pois precisaria de votos de três quintos dos deputados e dos senadores, além de um longo trâmite por comissões nas duas Casas.

Em café com jornalistas antes do recesso, Alcolumbre disse, rindo, que se alguém quiser trabalhar pela PEC da reeleição não irá impedir:

— Se Deus continuar me dando saúde e se eu continuar tendo uma postura que seja compatível com o que a maioria compreende que é o certo, naturalmente se alguém levantar essa possibilidade eu estou à disposição. Mas eu ir atrás, não vou. Já cheguei muito longe.

Dentro do Muda Senado, a ideia preponderante no momento é lançar um integrante do grupo para a disputa. Um dos cinco membros que já estava no Senado em legislaturas anteriores, Alvaro Dias tem sido aventado por companheiros do movimento, mas evita se colocar na disputa.


— O Muda Senado deve se unir em torno de um nome — disse o paranaense ao GLOBO, sem confirmar se ele será o candidato.

O nome de Anastasia, atual primeiro vice-Presidente do Senado, foi ventilado graças à movimentação dele para deixar o PSDB em direção ao PSD, mas pessoas próximas aos dois partidos afirmam que a mudança partidária não estaria ligada ao comando da Casa, e sim a seu projeto pessoal em Minas Gerais.


Disputa em BH

Tanto no PSDB quanto no PSD, o discurso é de que Anastasia é muito próximo ao prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), que deverá tentar a reeleição no ano que vem. Já os tucanos deverão ter candidatura própria na cidade, o que poderia criar um desconforto. Pesam ainda críticas dentro do PSDB à campanha feita por ele para o governo do estado em 2018. A cúpula da legenda ofereceu a Anastasia uma licença visando as eleições de 2020, mas a tendência é mesmo de uma troca de legenda.

Senador de primeiro mandato, Alessandro Vieira (Cidadania-SE) não descartou a possibilidade de o Muda Senado apoiar Simone ou Anastasia, mas diz que é cedo para apontar nomes.

— Simone e Anastasia não integram diretamente o grupo, mas são parceiros em várias demandas e grandes senadores. Seriam ou serão, num dado momento, presidentes do Senado com todo o mérito. Mas nomes para a próxima eleição vão ser decididos mais perto, até para não atrapalhar o processo de negociação legislativa — afirmou.