Título: Câmara: governo angaria 280 votos
Autor: Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 02/02/2005, País, p. A4

Convencidos de que ainda não têm os votos necessários para a eleição do deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) à presidência da Câmara, líderes dos partidos da bancada governista na Câmara e no Senado firmaram um compromisso ontem, em almoço na casa do presidente do Congresso, senador José Sarney (PMDB-AP). Vão concentrar esforços para consolidar 280 votos no candidato oficial, o que asseguraria vitória no primeiro turno.

A empreitada se dará num cenário em que os partidos assumiram o compromisso de que a Mesa será escolhida pelo princípio da proporcionalidade.

Se a eleição fosse hoje, pelos cálculos dos líderes que participaram do encontro na casa de Sarney, a candidatura de Greenhalgh correria riscos. A projeção mais pessimista aponta o petista com 238 votos, contra 268 da avaliação mais otimista. A margem foi considerada baixa. Greenhalgh precisa de 257 votos para vencer no primeiro turno. Os mais experientes alertaram: como o voto é secreto, seria prudente considerar um ''nível de traição'' de pelo menos 20 votos. Por isso, o empenho pelos 280 apoios.

No encontro, as projeções variaram de partido para partido. Pelas contas do PMDB, por exemplo, Greenhalgh contabilizou 260 apoios. O partido diz ter amarrado 40 votos pró-Greenhalgh, podendo alcançar 55. O mesmo número que teria José Borba (PMDB-PR) na reeleição para a liderança do partido na Câmara. Pela avaliação do PTB, no entanto, o petista só contaria com 245. O líder do partido na Câmara, deputado José Múcio, apostou na seguinte distribuição de votos para Greenhalgh na bancada governista: 80 do PT, 19 do PTB, 30 do PMDB, seis do PC do B, 25 do PL e apenas cinco do PP.

Também ficou evidente que as eleições na Câmara estarão relacionadas com a reforma ministerial de Lula. Ou seja, a reforma será feita à luz do resultado na Casa. Vários líderes reclamam dos atuais ministros do governo. Os alvos das críticas são Humberto Costa (Saúde), Olívio Dutra (Cidades), Ciro Gomes (Integração) e Roberto Rodrigues (Agricultura). Além de tratarem com descaso as demandas da base, esses ministros não estariam se empenhando pela eleição de Greenhalgh.

- Precisamos atuar afinados (ministros e líderes). É difícil ser recebido em audiência na Esplanada. O Rodrigues, por exemplo, só quer falar com a bancada ruralista - reclamou o deputado José Múcio.

Foram elogiados os ministros Aldo Rebelo (Coordenação Política), José Dirceu (Casa Civil), Alfredo Nascimento (Transportes), Eunício Oliveira (Comunicações) e Walfrido Mares Guia (Turismo). A participação do PP na reforma também foi questionada:

- Como o PP quer um ministério, se promete assinalar apenas cinco votos para Greenhalgh? - questionou um peemedebista muito ligado a Lula.