O Globo, n. 31554, 28/12/2019. Economia, p. 18

Pequena melhora no desemprego

Míriam Leitão


O desemprego caiu. Quem conhece as minúcias dos números sabe que foi um pouco melhor do que o esperado. Quem vê o quadro geral entende que não foi uma mudança relevante, porque o país ainda tem a multidão de 11,9 milhões de desempregados. E isso é mais do que um Portugal. E ainda tem 4,7 milhões de desalentados. Que é igual a uma Nova Zelândia. E tem 26,6 milhões de trabalhadores subutilizados, o que é mais do que toda a população da Austrália. Some-se os três países e se tem uma dimensão aproximada do problema brasileiro no mercado de trabalho.


A taxa, contudo, caiu para 11,2% no trimestre terminado em novembro. Era 11,8% no trimestre anterior que terminou em agosto. O mercado achou que cairia para 11,4%. Então, quando se diz que é melhor do que o esperado está se falando de dois pontos depois da vírgula.

Há notícias boas nos entremeios dos números. A lupa do jornalismo de economia consegue notar. O emprego formal subiu 1,1% em relação ao trimestre anterior, o que é mais 378 mil pessoas trabalhando com carteira. A taxa de desemprego sempre cai no fim do ano por causa da contratação dos temporários. Alguns desses podem ter sido contratados pelo comércio para as vendas do Natal. Mas como o Natal foi um pouco mais gordo do que o esperado e há um clima de que o ano que vem a economia como um todo será melhor do que este ano, é possível que muitos permaneçam. A taxa vinha melhorando 0,1 ponto percentual comparada com o mesmo período do ano anterior e desta vez subiu 0,4.


Estamos no Brasil comemorando qualquer avanço depois da vírgula já que o desemprego desembestou para patamares cada vez mais altos desde o começo de 2015 até 2017. E de lá vem caindo muito devagar. E pelo visto continuará nesse passo. O secretário de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, Rogério Marinho, disse que há boas expectativas de que o desemprego caia para um dígito, ou seja, abaixo de 10%. Até 2022.

Esse parece ser o horizonte das nossas possibilidades. Um avanço bem lento, gradual — e nada seguro — do número de pessoas que mensalmente procuram emprego e não encontram. Ainda temos três milhões a menos de vagas formais do que o país tinha em 2014. O emprego tem sido puxado pelos trabalhadores por conta própria — os que criam seu próprio trabalho por empreendedorismo ou desespero — e os trabalhadores informais.

O número mais triste talvez seja o dos desalentados. Eles já não procuram mais. E essa taxa está estável há tempos. Antes da crise eram 1,4 milhão e agora o número é 4,7 milhões. E está assim entra mês e sai mês. Fica tudo na mesma. O número não mudou na comparação com o mesmo trimestre de 2018.

O governo mandou ao Congresso um programa de estímulo ao primeiro emprego, mas atrelando o seu financiamento a uma taxa cobrada dos que recebem seguro-desemprego. Marinho disse que cabe ao Congresso encontrar outra fonte. Na verdade, deveria o Congresso devolver o projeto para que ele seja aperfeiçoado. Definir uma fonte inaceitável e lavar as mãos é fácil.

Houve outra melhora. A massa de rendimentos subiu 3% na comparação com 2018 e 2,1% em relação ao trimestre terminado em agosto. É assim que se vai notando o que há de positivo no mercado de trabalho, aos poucos e na margem. Em dezembro sempre há um número ruim no Caged, que mede o mercado formal. Normalmente o saldo de contratações e demissões é negativo no mês. Da mesma forma que a Pnad Contínua, o indicador mais geral de pessoas trabalhando, tem em dezembro seu melhor índice do ano,para voltar a piorar no começo do ano seguinte.


Quando a economia retomar o crescimento mesmo, o país terá um encontro marcado com outro tipo de gargalo no mercado de trabalho: a falta de trabalhadores com qualificação que os empregadores vão procurar. A forma de produção está mudando muito rapidamente, as exigências do mercado de trabalho são cada vez mais sofisticadas, a tecnologia transforma tudo de forma avassaladora.

Olhando para esse futuro, o melhor remédio sempre foi e sempre será a educação. Uma educação ampla, inclusiva, atualizada. Claro que os leitores sabem que o Brasil está perdendo tempo com ideias delirantes no Ministério da Educação, por isso nem falarei no assunto. Apenas registro que parte da solução é aumentar o nível educacional dos brasileiros.