Título: Refém brasileiro está vivo, diz xeque
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 02/02/2005, Internacional, p. A7

Informações obtidas pelo governo da Jordânia indicam que o engenheiro João Vasconcellos escapou com vida do ataque

BEIRUTE e BAGDÁ - Informações obtidas pelo governo da Jordânia dão conta de que o engenheiro brasileiro João José de Vasconcellos Jr., seqüestrado no dia 19 no Iraque, está vivo, revelou ontem o xeque Ali Mohammed Abdouni, enviado do Brasil ao Oriente Médio para ajudar na libertação do refém. Durante a tarde, o mesmo grupo que assumiu a captura do engenheiro divulgou um comunicado na internet, no qual anunciou o seqüestro de um suposto soldado americano e exigiu a libertação de detidos iraquianos. Junto à mensagem, uma foto do provável refém foi divulgada, mas sua autenticidade questionada.

- Não sabemos quem deu as informações sobre João de Vasconcellos às autoridades jordanianas - contou Abdouni à imprensa.

Para o xeque, a simples maneira como os seqüestradores vêm conduzindo o caso já deve ser encarada como ''positiva''. Ele afirma que em seqüestros anteriores, os guerrilheiros anunciavam a morte dos reféns antes do assassinato, e não houve qualquer ameaça até agora à vida do engenheiro.

- Isso nos tranqüiliza um pouco. As pessoas que foram mortas no momento da captura de Vasconcellos tiveram suas mortes comunicadas pelo grupo - disse, referindo-se ao britânico e ao iraquiano que faziam a segurança do engenheiro no momento do ataque.

De fato, quando o Brigadas de Mujahedin, em uma operação conjunta com o grupo Ansar al Sunna, anunciou o seqüestro do brasileiro - no sábado, dia 22 -, foi noticiada a morte de duas pessoas no ataque. Na mesma fita, foram exibidos documentos do engenheiro, mas nenhuma exigência foi feita.

Ontem, o xeque Abdouni se reuniu no Líbano com o porta-voz da Associação dos Clérigos Muçulmanos do Iraque (também chamada de Cúpula dos Sábios), e com os embaixadores brasileiros: Antônio Carlos Coelho da Rocha, da Jordânia, Marcos Camacho de Vincenzi, do Líbano e Eduardo Monteiro, da Síria. Também participou do encontro o enviado especial do Brasil para o caso, o embaixador extraordinário para o Oriente Médio, Afonso Celso de Ouro-Preto. Na reunião, foram discutidas estratégias para ajudar na libertação do refém.

Procurada pelo JB, Karla de Vasconcellos, irmã de João, se mostrou cautelosa em relação à informação de que o engenheiro estaria vivo.

- Estamos esperando a confirmação oficial, ainda não fomos contactados. É claro que uma notícia como essa nos fortalece muito, aumenta as esperanças, mas estamos levando com calma. Precisamos saber sobre seu estado de saúde - disse Karla, por telefone, de Juiz de Fora.

Ela contou ainda que a família tem recebido manifestações de apoio de todo o Brasil.

- Depois da passeata de sábado [realizada na cidade mineira], recebemos muitas ligações e telegramas de vários lugares do país - revela.

Também ontem, o grupo Brigadas de Mujahedin, que assumiu a autoria do seqüestro do engenheiro brasileiro, divulgou na internet uma mensagem na qual dava um prazo de 72 horas para que fossem libertados prisioneiros iraquianos em troca da vida de um suposto fuzileiro naval americano.

''Nossos mujahedins capturaram o soldado John Adam depois de matar vários de seus companheiros'', indicou o texto, que não foi datado, nem menciona o local onde o militar teria sido capturado.

Poucas horas depois do anúncio, o comando militar americano divulgou que nenhum soldado foi dado como desaparecido no Iraque.

De acordo com a agência Associated Press, a foto do suposto soldado se parece a um boneco vendido nas bases americanas no Kuwait, que se chama Cody. Liam Cusack, fabricante do brinquedo, também concordou com a semelhança. Ainda foram observados erros de grafia e repetição de palavras escritas em árabe na faixa atrás do refém, incomum nesse tipo de comunicado.