Título: Diplomacia muda
Autor: Antonio Sepulveda
Fonte: Jornal do Brasil, 02/02/2005, Outras Opiniões, p. A9

Os ¿americanófobos¿ não enxergam no inglês o vetor mais eficiente para embaixadores?

O governo petista retirou a exigência de conhecimento da língua inglesa, a mais importante do cenário político-estratégico internacional, dos exames de admissão à carreira diplomática. Motivo: exigir que os candidatos ao Itamaraty conheçam o idioma de Charles Dickens seria manifestação de elitismo explícito e uma injustiça com os candidatos monoglotas. Podemos, pois, inferir que os teóricos do partido consideram o conhecimento prévio de inglês desnecessário à preparação dos futuros diplomatas. Quem sabe achem mais acertado reduzir os padrões dos critérios de seleção, em vez de colimar a qualidade intelectual do corpo discente; ou talvez acreditem que um curso expedito daria aos alunos do Instituto Rio Branco a fluência de um Daniel Webster. Será que os exacerbados ''americanófobos'' e ''anglófobos'' das esquerdas anacrônicas não enxergam no inglês o vetor mais eficiente para os demais atributos indispensáveis aos embaixadores? A dúvida procede, porquanto agem e reagem como se fossem seguidores da réplica célebre de Robespierre à Madame Lavoisier que implorava pela vida do marido genial: ''A República não precisa de sábios''. Embora vejamos nessa medida absurda mais uma expressiva demonstração petista de que não existem limites para a imbecilidade humana, não temos razão para grandes cuidados. O PT - se Deus for mesmo brasileiro - não ocupará o Executivo eternamente; algum dia, a sensatez voltará ao nosso Ministério das Relações Exteriores, e a casa vai ser arrumada. É claro que ficará uma seqüela. Teremos de permeio alguns diplomatas mudos: aqueles que não sabiam inglês antes e não conseguiram aprendê-lo depois nos níveis exigidos pela lide diplomática. Os ''mudinhos'' carregarão essa ponderável deficiência ao longo da carreira, em relação aos colegas plurilíngües mais articulados, para gáudio dos intérpretes desempregados.

Qualquer que seja a acepção que adotemos para o vocábulo ''elite'' - fina flor da sociedade ou seu segmento mais apto - é dela que desejamos ver sair nossos negociadores internacionais. Aos menos qualificados é preciso dar condições de almejar e disputar cargos em nossas embaixadas em pé de igualdade. Esta é uma meta de longo prazo, que deve ter início no curso maternal; jamais será atingida com ''canetadas'' ideológicas. Somente com uma postura realista, firmaremos acordos relevantes, o que a mentalidade tacanha deste governo ainda não fez em dois anos. Importante é ter diálogo e abertura com o Norte desenvolvido, onde se encontram os maiores parceiros comerciais do Brasil, em vez de persistir na jacobina mediocridade de uma cruzada socialista e terceiro-mundista.

A decisão do ministro Celso Amorim de rejeitar a língua global de um mundo globalizado é risível, raiando pelo ridículo; o que, porém, realmente nos espanta é o fato de o comissariado petista não ter percebido que Amorim, depois das sandices proferidas sobre o assunto, certamente, perdeu o respeito de seus subordinados. Na esteira das ironias do jornal suíço Tribune de Genéve, é provável que o ministro seja hoje motivo de chacota até mesmo entre os mais ínfimos dos vice-cônsules. As piadas se multiplicam e, maldosamente, caçoam da decantada pouca instrução do presidente, do vice-presidente e do presidente da Câmara, que poderia ser contagiosa. O governo estaria sofrendo um surto de agravação do apedeutismo de sua cúpula. Amorim se defende e diz que qualquer um aprende inglês em três anos. Pois bem, o chefe dele, o presidente Lula da Silva, em mais de cinco décadas, sequer conseguiu assimilar corretamente o português, a nossa última flor do Lácio, tornando-a cada vez mais inculta e menos bela.