Correio Braziliense, n. 20635, 21/11/2019. Política, p. 3

Collor critica novo partido

Gabriel Pinheiro


O senador Fernando Collor de Mello (Pros-AL) afirmou que a criação de um partido pelo presidente Jair Bolsonaro não apresenta avanço político nenhum. “Foi uma medida muito pessoal por parte do presidente. Deixar de mão um partido com 52 parlamentares, que seriam núcleo da construção do bloco de sustentação do governo, e entrar nessa seara de criação de um partido é uma coisa que não seria muito apropriada”, frisou o parlamentar, em entrevista, ontem, ao CB.Poder, parceria do Correio com a TV Brasília. Para ele, faltou aconselhamento por parte de pessoas próximas ao chefe do Planalto para convencê-lo de que a decisão “seria um erro”.

Collor disse acreditar que uma das falhas do governo é o núcleo familiar restrito do presidente. “Quando o filho dele falou em fechar o Supremo Tribunal Federal e o retorno de um AI-5, era esperada uma reação severa e uma reafirmação do compromisso do presidente de seguir rigorosamente a Constituição”, destacou, numa menção ao deputado federal Eduardo Bolsonaro. (PSL-SP)

Sobre reformas propostas pelo Executivo, Collor afirmou que haverá dificuldade de tramitação dos textos no parlamento. “Essa reforma da questão federativa e dos municípios e esse projeto fiscal de redução de salário de servidores em 25% não têm como passar no Congresso”, avisou.

Na opinião do senador, a reforma tributária é uma questão extremamente delicada e só tem condições de avançar se o texto for do agrado do governo. “Reforma tributária supõe uma repartição de recursos. Quem detém a maior parcela dos recursos arrecadados na União, no país inteiro, é o governo federal. Eles são os menos interessados em uma reforma como essa.”

Para Collor, a reforma trabalhista não surtirá efeito, porque, segundo afirmou, são medidas definidas “sem o sentimento da população” e do que o povo precisa. “São números muito frios e cálculos muito frios, que não alcançam o povo de um modo geral e, portanto, não vão dar resultado. Não vai acabar com desemprego e também não vai fazer com que nós retomemos o crescimento”, contestou.

A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que proibiu a prisão mesmo após condenação em segunda instância, também foi comentada por Collor. Ele disse que é uma garantia individual do cidadão somente cumprir pena após ser levado à avaliação de todas as instâncias dentro do Poder Judiciário. “Não acho que seria o momento oportuno de o Congresso retificar uma decisão da mais alta corte de Justiça do país”, emendou ele, sobre a intenção do parlamento de aprovar proposta de emenda à Constituição sobre o tema.

*Estagiário sob a supervisão de Cida Barbosa