Título: Jovem americano critica a liberdade
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Fonte: Jornal do Brasil, 02/02/2005, Internacional, p. A11
Pesquisa que ouviu 100 mil secundaristas em todo o país revela que Constituição ''vai longe demais''
WASHINGTON - Mais de um terço dos 100 mil estudantes secundaristas americanos entrevistados em uma pesquisa acham que a Primeira Emenda da Constituição do país vai ''longe demais'' ao garantir liberdade de discurso, imprensa, culto e reunião. Metade deles também pensa que os jornais só deviam publicar matérias com o consentimento do governo.
- Estes resultados não são apenas perturbadores, são perigosos. A ignorância sobre as liberdades básicas e fundadoras de nossa sociedade é uma ameaça ao futuro da nação - alerta Hodding Carter III, membro da John S. and James L. Knight Foundation, que financiou a pesquisa realizada na Universidade de Connecticut.
Participaram da enquete, além dos estudantes, 8 mil professores e mais de 500 administradores, em 544 escolas secundárias dos Estados Unidos, no início do ano passado.
O estudo revela ainda que os estudantes são mais restritivos em suas opiniões que adultos mais velhos. Quando perguntados sobre se as pessoas devem ter direito a expressar idéias impopulares, 97% dos professores e 99% dos diretores das escolas responderam que sim. Entre os alunos, o número de aprovação foi de 83%.
Para a fundação, os resultados da pesquisa refletem indiferença: 75% dos jovens disseram não saber como se sentem em relação à Primeira Emenda. Também ficou claro que muitos estudantes não entendem o que está sob proteção na lista de direitos fundamentais.
Entretanto, o desconhecimento não se restringe aos direitos básicos. Três em cada quatro alunos disseram que queimar a bandeira dos EUA é ilegal. Não é. Metade disse que o governo pode restringir o acesso a qualquer material indecente na internet. Não pode.
''As escolas não fazem o suficiente para ensinar a primeira emenda'', criticou no relatório Linda Puntney, da Associação de Educação do Jornalismo. ''O pior é que isto acontece numa época em que diminui a paixão das pessoas pelas causas. E você tem que ser apaixonado por essa emenda'', acrescenta.
A conclusão do estudo é que a maneira mais eficiente de tentar abrandar o quadro é dar maior ênfase em programas de jornalismo estudantil, que fariam com que os jovens lidassem com a Primeira Emenda no cotidiano.
Warren Watson, diretor do projeto de jornalismo J-Ideas, da Universidade Ball State, em Indiana, concorda:
- Os últimos 15 anos não foram uma era dourada para a mídia estudantil. Os programas estão sob estado de sítio ou morrendo por negligência. Muitos alunos não aproveitam a oportunidade de praticar as liberdades básicas.
Parceiros no projeto de pesquisa, editores de jornais, rádios e televisão também defendem a primeira emenda. Autoridades federais e estaduais, por sua vez, denunciam o pouco conhecimento dos jovens também sobre história americana e direitos civis.
É por isso que o senador democrata Robert Byrd planeja aprovar uma lei para que as escolas dediquem o dia 17 de setembro para o ensino da Constituição. A Carta americana foi assinada nesta data, em 1787.
Se a situação é difícil nas escolas, não melhora nos primeiros anos da universidade. Há 39 anos, o Instituto de Pesquisa de Educação Superior da Universidade da Califórnia (UCLA) realiza anualmente outra pesquisa, com seus calouros. Este ano, houve recorde no número de estudantes que se proclamavam politicamente ''de extrema-direita'' (3,4%) ou ''de extrema-esquerda'' (2,2%).
A porcentagem de estudantes que se identificam como liberais (26,1%) ou conservadores (21,9%) também subiu desde o ano passado. A categoria ''meio do caminho'' ficou em 46,4%, caindo quatro pontos percentuais em relação a 2004 - é o patamar mais baixo em 30 anos.
Além da posição política, outro recorde foi registrado na pesquisa: 22,7% dos calouros da UCLA acreditam que a discriminação racional não é mais um problema nos EUA. No entanto, o número de pessoas que disse ter se socializado com integrantes de grupos raciais ou étnicos diferentes do seu no ensino secundário caiu levemente - repetindo a tendência desde 2001 - para 67,8%.