O Globo, n. 31552, 26/12/2019. País, p. 13

Câmara articula anular afastamento de Wilson Santiago
Natália Portinari
Isabella Macedo


A ordem de afastamento do cargo do deputado federal Wilson Santiago (PTB-PB), denunciado por corrupção pela Procuradoria-Geral da República (PGR), incomodou parlamentares de diversos partidos, que já discutem como reverter a medida. A decisão é considerada extrema, já que não há condenação. Santiago tem um bom trânsito entre os colegas.

O Supremo Tribunal Federal (STF) determinou afastamento cautelar, mas políticos defendem que, para uma punição tão severa, é preciso haver provas incontestáveis de participação em ações criminosas. Cabe ao plenário da Câmara dos Deputados confirmar ou não o afastamento do deputado, o que deve ocorrer após o recesso de fim de ano.

O deputado é suspeito de desviar recursos públicos destinados à construção da adutora Capivara, no município de Uiraúna (PB).

— Tem vídeos e provas contra assessores, mas tem que ver o que tem diretamente contra o parlamentar. Esse será o grande argumento para saber se a Câmara irá manter — diz Efraim Filho (PB), eleito líder do DEM para 2020. —  A Câmara vai tomar muito cuidado. É uma decisão muito radical, muito dura, que tem que estar embasada em provas muito sólidas.

O líder do PTB, Pedro Lucas Fernandes (MA), evitou se posicionar sobre o caso. 

Arthur Lira (AL), líder do PP, diz que ainda é preciso avaliar a justificativa do Supremo, mas a tendência é a reversão.

— Para se justificar uma medida extrema dessas, só se ele (o deputado) estivesse oferecendo riscos à investigação. O normal é que a Câmara suspenda a decisão.

Líder do PSB,Tadeu Alencar (PE) diz que a questão deve ser analisada com com cautela.

— É matéria sensível que, a despeito de ser eminentemente política, não pode ser tratada dissociada dos elementos do processo que serão examinados quando a Câmara receber a decisão do STF e se reunir para deliberar sobre o tema. Em qualquer hipótese, a decisão deverá se esmerar em ser justa, democrática e republicana — diz o líder.