O Globo, n. 31552, 26/12/2019. Sociedade, p. 28

Zerar CO2 trará vasto benefício à economia global, mostra estudo
Rafael Garcia


Uma nova simulação ambiental e econômica indica que ainda é possível zerar as emissões de carbono do planeta até 2050, numa trajetória que contenha o pior do aquecimento global. A transição para energias limpas, diz o estudo, teria o benefício de reduzir a demanda energética em 57% e o custo da energia em 61%.

Não sairia barato, inicialmente, porque o investimento necessário é da ordem de US$ 73 trilhões. Mas esse dinheiro criaria um saldo de 28 milhões de empregos no planeta, a maior parte na construção de novas usinas e instalações, como painéis solares no teto de prédios e casas. Além disso, evitaria perdas futuras ligadas às mudanças climáticas, que são maiores que o custo da energia limpa.

O estudo, liderado pelo cientista Mark Jacobson, da Universidade Stanford, da Califórnia, sai uma semana após a COP-25, a cúpula do clima da ONU, terminar com resultado decepcionante. Os países participantes falharam em aumentar a ambição dos cortes de emissão de gases do efeito estufa e colocam o planeta numa trajetória de aumento da produção de CO2.

— A má notícia é que as emissões continuam subindo, e nosso prazo para reduzi-la sé o mesmo. T emosque trabalhar mais rápido — diz Jacobson ao GLOBO. — A boa notícia é que energias eólica e solar, bem como as baterias, estão mais baratas agora. O custo da transição hoje é, na verdade, menor do que há dez anos.

A transição energética calculada por Jacobson e seus colegas não leva em conta o fator político, ma sé viável em termos de custo, segundo o sautores, porqueé planejada em de benefícios das energias renováveis para a economia.

Custo social

Para começar, a transição energética rumo a uma matriz 100% renovável mitigaria os danos da mudança climática. O chamado custo social do aquecimento global cairia de US$ 76 trilhões/ano para US$ 7 trilhões/ano, porque a temperatura do planeta subiria abaixo de 1,5°C, nível relativamente seguro.

Isso significa que, num futuro com a mesma cota de combustíveis fósseis, os danos causados pelo clima num único ano são maiores que todo o investimento necessário à transição. O prejuízo viria na forma de perdas na agropecuária, na saúde ou no patrimônio privado e público.

Para certificar-se de que suas contas são realistas, Jacobson analisou dados de custo de energia, infraestrutura e composição de matriz energética em detalhes para 143 países diferentes. O Brasil foi incluído, apesar de sua principal fonte de CO2 ser o desmatamento, não ageração de energia.

— A queima de toda essa biomassa precisa acabar, claro, e isso deve ser feito simultaneamente — diz Jacobson. — Mas acabar com o desmatamento não vai exigir um acordo tecnológico, mas econômico, político e de fiscalização.

A demanda de energia do Brasil, de qualquer forma, está projetada para atingir 593 GW em 2050 num cenário de alta emissão de CO2, mas pode ser reduzida pela metade num cenário de matriz 100% limpa.

A China, com emissões previstas para mais de 5 TW, ou seja, dez vezes aquelas do Brasil, será a maior parte do problema num cenário de energia suja, mas se torna a maior parte da solução caso promova mais energia limpa.

Para fecha racontada transição energética, por fim, Jacobson considerou também a energia que pode ser economizada com tecnologias como carros elétricos, que perdem menos energia por dispersão de calor do que carros a combustão. Para ele, o cenário político não deve levar as pessoas a desistirem da luta pelo clima.

— Elas precisam sedar conta de que existe uma solução para o problema e tentar convencer seus líderes e formuladores de política a mudarem.