Título: Preços nas alturas
Autor: Ricardo Rego Monteiro
Fonte: Jornal do Brasil, 02/02/2005, Economia & Negócios, p. A17
Petrobras reajusta querosene de aviação em 10,4% e empresas aéreas, em crise, preparam aumento de passagens
No momento em que governo e setor aéreo debatem o futuro da Varig, a Petrobras anunciou ontem um novo reajuste que, segundo analistas, dificulta ainda mais os esforços pela recuperação econômica da empresa. O diretor de Abastecimento da estatal, Paulo Roberto Costa, anunciou um aumento de 10,4% no preço do querosene de aviação, combustível que responde por 35% dos custos das companhias aéreas. Tanto a Varig como a TAM informaram que vão avaliar, nos próximos dias, o impacto do reajuste de forma mais detalhada, para só depois decidirem como vão ficar as passagens aéreas. A Gol limitou-se a informar que não reajustará os valores cobrados nos vôos por conta do aumento do combustível.
Costa fez questão de descartar, no entanto, qualquer possibilidade de aumento dos preços da gasolina nas próximas semanas. Segundo o executivo, a Petrobras manterá neste ano a mesma orientação de 2004, quando evitou repassar para os preços internos dos combustíveis as variações das cotações internacionais do barril de petróleo.
- A continuar a volatilidade atual (dos preços do petróleo), a resposta é não (para o aumento da gasolina) - disse.
O diretor de Abastecimento disse, porém, que a regra não se aplica aos preços do querosene de aviação e da nafta petroquímica, derivados cujos reajustes, segundo ele, apresentam impacto menos significativo sobre o conjunto da sociedade. De acordo com o executivo, a alta do querosene deveu-se ao movimento dos preços do petróleo nos últimos dias.
Analistas de mercado e especialistas do setor defendem que o reajuste ocorre em um momento desfavorável para a Varig, que trabalha com a expectativa de entrada de um investidor estrangeiro em sua estrutura de capital. Tanto Marcelo Ribeiro, da corretora Pentágono, quanto o ex-presidente da Varig Arnin Lore afirmam que um maior comprometimento das finanças da companhia, cujo patrimônio líquido negativo chega a R$ 7 bilhões, poderá dificultar a atração desses investidores. Um dos grupos cotados, segundo informações de mercado, é o Texas Pacific Group, fundo de investimentos americano que por mais de uma ocasião já teria demonstrado interesse na companhia aérea.
Uma das principais credoras da Varig, por meio da subsidiária Petrobras Distribuidora (BR), a estatal já promoveu, neste ano, um reajuste no preço do querosene de aviação. Ocorrido no início de janeiro, elevou o preço em 4,8%. No dia 15, no entanto, o valor do combustível foi reduzido em 3,4%.
Costa participou ontem, no Rio, da cerimônia de assinatura do contrato da Petrobras com a francesa Axens, empresa que ficará responsável pelo projeto básico e pelo licenciamento da tecnologia de redução do teor de enxofre na gasolina produzida nas refinarias da Petrobras. O projeto demandará investimentos totais de US$ 1,6 bilhão e elevará o combustível do país à qualidade do produzido nos EUA e Europa. Até o fim de 2009, a empresa reduzirá de 1.000 partes por milhão (ppm) para 50 a quantidade de enxofre na gasolina produzida no país. No mesmo período, a companhia quer reduzir dos atuais 3.500 ppms para 500 ppms o óleo diesel comercializado no interior do país, enquanto nas regiões metropolitanas, o teor será diminuído de 2.000 ppms para 50 ppms. Nas regiões metropolitanas de Rio, São Paulo e Belo Horizonte, a redução poderá ser antecipada para este ano.