Os resultados fazem parte do estudo Democracias sob tensão, liderado pelo professor Dominique Reynié, do Instituto de Estudos Políticos de Paris, divulgado nesta semana. Em todo o mundo, a amostra ouviu 36.395 pessoas. No Brasil, o questionário foi feito durante as semanas que precederam as eleições de 2018. A pesquisa também constatou uma alta desconfiança dos brasileiros com a classe política: nove em cada 10 afirmaram não confiar no governo (93%), no parlamento (90%) nem nos partidos políticos (96%). Os números são superiores à média das democracias pesquisadas: 64%, 59% e 77%, respectivamente.

Os resultados fizeram com que o país atingisse um índice de cultura democrática de 2,8% — o indicador varia de 0 a 10 (quanto mais tende para 10, mais forte é a cultura democrática no país). Macedônia, Lituânia e Eslovênia obtiveram o mesmo resultado que o Brasil, e apenas Bulgária, Romênia e Letônia ficaram atrás.

"A violência endêmica e a corrupção explicam em grande parte a atual desilusão do Brasil com seu sistema democrático. A consolidação democrática no Brasil, a partir de 1985, depois de 25 anos de ditadura militar, se deu com base em conquistas de direitos civis de caráter corporativista, muito mais do que no fortalecimento de amplos valores democráticos republicanos", explica, no documento da pesquisa, o economista Octavio de Barros, um dos responsáveis pela análise. "Na comparação com os demais países da América Latina, é possível afirmar que o Brasil é um país subpolitizado. A política não é algo que realmente encanta a população brasileira."

Regime militar

A enquete ainda revelou que metade dos brasileiros acredita que a volta dos militares ao poder seria a melhor solução para enfrentar os problemas do país. Além disso, 45% dos cidadãos julgaram positiva a possibilidade de o país ser governado por um regime militar — enquanto isso, a média global é de 21%.

Para o cientista político Rocio Barreto, isso é reflexo de uma sociedade majoritariamente conservadora. "Esse desejo existe por conta de um pensamento inserido na cabeça dessas pessoas de que os militares são mais organizados. Essa parte da população, ao ver que o político que ela elegeu não corresponde ao que esperava, passa a classificá-lo como corrupto e, assim, passa a acreditar que o sistema militar seria o único capaz de colocar fim nisso", detalha.

Barreto acrescenta que a falta de uma democracia participativa contribui para esse percentual. No entanto, ele alerta que "foi construída uma crença de que o golpe militar não existiu e de que a Polícia Militar e o Exército só puniam quem era criminoso e contra o regime, mas se esquecem que a livre expressão e o pensamento eram proibidos".