Correio Braziliense, n. 20632, 18/11/2019. Política, p. 4

Partidos buscam opções à polarização

Luiz Calcagno
Bernardo Bittar


Falar em nomes para a disputa da Presidência da República em 2022 está proibido, mas lideranças de partidos de centro, dentro e fora do Congresso, esmagadas entre a polarização PT-Jair Bolsonaro, começaram a debater uma via alternativa. A ideia seria apresentar um candidato com propostas sociais e econômicas moderadas e que chame a atenção do eleitorado justamente por fugir da dinâmica do “nós contra eles”.

A relação conturbada de Bolsonaro com o Congresso e o protagonismo do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), no que toca às pautas econômicas, mostraram às legendas de centro que é possível formar o que um senador chamou de “corrente alternativa”. Maia viajou a Nova York, na quarta à noite, para receber o Woodrow Wilson Award for Public Service (Prêmio Woodrow Wilson por Serviço Público, em tradução livre), e teve agenda com investidores e empresários. Entre eles, representantes dos bancos Citibank e JP Morgan e da corretora Morgan Stanley.

Investidores estrangeiros temem que o Congresso não dê andamento, na velocidade desejada, à pauta que pode resolver a questão fiscal e abrir espaço para um crescimento mais rápido da economia. Eles esperam que, ao longo do tempo, surja uma força do centro com potencial suficiente para vencer os dois polos que hoje dominam o cenário nacional.

O cientista político Ivan Ervolino, criador da start-up de monitoramento legislativo SigaLei, vê viabilidade nesse caminho. Para ele, o centro, diluído em muitas legendas, “precisa de uma agenda própria” para aglutinar simpatizantes. “Você teve uma eleição em que os candidatos de centro, como Geraldo Alckmin (PSDB) e Marina Silva (Rede) se viram sem muita expressão. A figura unificadora, representada pelo centro, é essencial. Ainda assim, não consegue se destacar sem agenda”, avalia.

Ervolino diz que a oscilação dos moderados passa a ideia de que o grupo não tem agenda própria. “Os partidos que se definem como centro-esquerda ou centro-direita precisam encontrar uma linha mais sóbria”, acrescenta. O especialista afirma que o eleitor médio tende a ficar arredio até entender o desenho que o centro pretende definir. “A única saída é buscar protagonismo. Precisam encontrar a linha de interlocução mais sólida, apresentando projetos, trazendo ideias. Não dá para ficar como mediador”, alerta.

Conversas

Presidente da Comissão Mista Parlamentar de Inquérito (CPMI) das Fake News e vice-líder do PSD, o senador Ângelo Coronel (BA) explica que existe um entendimento a respeito de um esgotamento provocado pela polarização da esquerda com a extrema-direita. “O extremismo está chegando à exaustão. Vejo colegas na Câmara e no Senado e lideranças de fora em busca de uma opção moderada. Acho salutar para que o povo possa escolher. Não dá para ficar de Fla-Flu e Gre-Nal”, compara. “Temos de dar opção ao povo de escolher seu presidente com liberdade, sem influência de redes sociais, fake news. Acho válida essa ação de pessoas que querem construir saídas”, elogia. Questionado sobre nomes, ele afirma que ninguém está pensando em candidatos, por enquanto.

O deputado Luizão Goulart (Republicanos-PR) também comentou sobre a corrente alternativa. Segundo ele, o diálogo ainda é difuso, “mas a tendência é trabalhar em um campo mais equilibrado, com um projeto desenvolvimentista, sem agredir direitos ou a Constituição”, ressalta. “Isso é uma tendência do que acontece hoje no Congresso. A extrema-esquerda e a extrema-direita não têm muito o que avançar no Congresso”, acredita.

Luizão ressalta que essa viabilidade, ao menos por enquanto, também não abarca partidos como o Novo. “Quando eu falo que a tendência é convergir, eu percebo em conversas, reuniões de liderança, que existe uma preocupação de não deixar voltar o que era antes, do grupo do PT, que está isolado, e um grupo de direita relacionado ao Novo ou à ala religiosa. O pessoal se afasta dessa tendência. Caminha para um centro democrático”, frisa.

Frase

"O extremismo está chegando à exaustão. Vejo colegas na Câmara e no Senado e lideranças de fora em busca de uma opção moderada. Acho salutar para que o povo possa escolher. Não dá para ficar de Fla-Flu e Gre-Nal”

Ângelo Coronel, senador (PSD-BA)