Título: Estudantes retornam da floresta amazônica
Autor: Rafael Baldo
Fonte: Jornal do Brasil, 02/02/2005, Brasília, p. D4

Miséria na região estarrece grupo da UnB que participou do Projeto Rondon

Três dias de treinamento, sete dias de selva e uma experiência de vida inesquecível. As estudantes de odontologia Monique Pyrrho, Ana Paula Ferreira, Luiza Barreto, Kátia Seibert e o professor João Milki, todos da Universidade de Brasília, voltaram esta semana da primeira etapa do Projeto Rondon, promovido pelo Ministério da Defesa. A ação procurou diagnosticar os principais problemas de comunidades em áreas críticas da selva amazônica. Cerca de 200 estudantes participaram da empreitada. O grupo do Distrito Federal acompanhou de perto as dificuldades da cidade de Fonte Boa e de outras localidades ribeirinhas próximas. Lá, não existe infra-estrutura necessária para saneamento básico, as escolas ficam afastadas, as estradas são poucas e sem asfalto, além da falta de cuidados preventivos de saúde, entre outros.

- Existe um hospital na cidade, capaz de atender a população local. Mas o resto, falta de tudo. A população vive sem estrutura nenhuma - afirma Monique Pyrrho. Até os agentes de saúde não têm o treinamento adequado para ensinar os próprios vizinhos, completa.

O professor João Milki confirma a gravidade da situação. Mesmo com os tratamentos proporcionados pelo hospital, não existe a prevenção das doenças. Segundo Milki, cura-se os sintomas, não as causas. Apesar da primeira fase ser um período de avaliação integral das necessidades e problemas da população do local, o professor notou que os costumes de prevenção bucal eram pouco conhecidos.

- Algumas famílias tinham uma escova de dente para cada membro. Outras, uma para toda a família ou sequer tinham o hábito da escovação - lembra o professor. Cada casal tem, em média, de cinco a seis filhos, ressalta João.

O choque entre as realidades também foi muito percebido. A instrução era tentar mudar os hábitos sem modificar os costumes dos habitantes da região. Um desafio complicado a ser realizado efetivamente na segunda etapa, em julho deste ano. A continuidade, porém, depende de financiamento do governo. A etapa de janeiro foi quase toda patrocinada pela Petrobrás e Caixa Seguros.

- Valeu muito a pena participar do Projeto Rondon. Antes, eu queria apenas atender a população, mas quando cheguei vi uma oportunidade muito mais ampla de conhecer essa nova realidade. A experiência me engrandeceu muito - resume Monique.

Os grupos participantes têm trinta dias para entregar os relatórios de análise das comunidades. Um novo edital será aberto após a análise dos resultados. A intenção do grupo do DF é voltar à selva, desta vez para mudar com as próprias mãos a realidade das comunidades carentes da região.