Título: Bando usava ambulância da prefeitura para tráfico
Autor: Hugo Marques
Fonte: Jornal do Brasil, 04/02/2005, País, p. A2

A quadrilha de 43 traficantes, presos na quarta-feira pela Polícia Federal, usou até ambulância da Prefeitura de Campos (RJ) para traficar maconha e cocaína. A PF está à procura de outros nove traficantes do mesmo grupo, que já estão com mandado de prisão expedidos.

A quadrilha trafica drogas há 10 anos e cooptou pelo menos cinco servidores públicos em Campos. O motorista da ambulância da prefeitura Amarilson Pita da Silva, preso pela Operação Petisco, distribuía parte da maconha e da cocaína por municípios do norte fluminense, incluindo o litoral. Um dos carregamentos transportados na ambulância da prefeitura, de 3kg de coca, foi confiscado pela PF em São João da Barra (RJ).

A prisão de Amarilson foi uma das mais difíceis. Na manhã de quarta-feira, a PF foi à casa dele e não o encontrou. Ele também não estava no trabalho. Um dos investigadores foi à residência da amante de Amarilson, uma enfermeira, que colaborou com a polícia e o contactou pelo celular. O motorista acabou se entregando, convencido pelo delegado.

Além do motorista, o guarda municipal Nelson Francisco Matos Neto, o Dunha, também foi cooptado. Ele comprava e administrava o armamento da quadrilha, incluindo fuzis e metralhadoras, e ajudava a administrar bocas-de-fumo. O servidor da delegacia de polícia Luiz Carlos Mello dos Reis, segundo a PF, era fornecedor de armas para o bando.

Como especialista do serviço de inteligência da PM em Campos, o sargento Marcos Antônio Tavares Peçanha, que informaria à quadrilha sobre locais de barreiras policiais. O militar foi afastado do serviço três semanas antes da Operação Petisco. O soldado Raleigh Machado Dias também foi preso, pois seria outro informante da quadrilha.

Em Belo Horizonte, a PF prendeu a advogada Andréa Elizabeth de Leão Rodrigues. Formada há quatro anos e casada, ela envolveu-se com o traficante preso Marcos Vinícius de Paula Chimicat. Segundo a PF, a advogada distribuía cocaína fora do presídio.

A quadrilha tinha ainda uma comunicadora. Presa em Juiz de Fora, a jornalista Marília Sffeir Mahfuz se apresentou à PF como ''editora da TV Globo''. Marília é na verdade funcionária da TV Panorama, repetidora da TV Globo em Juiz de Fora.

A jornalista chegou a comentar com os policiais que já tinha orientado as equipes de televisão para que não a filmassem chegando presa. Com Marília, foi preso seu filho Bruno Mahfuz Renaud e o amigo Marcius Augustus de Almeida Farias. Com Bruno e Marcius, a PF apreendeu 215 gramas de cocaína e 29 bolas de haxixe, além de R$ 1,6 mil em dinheiro e relógios sofisticados.

Segundo a PF, Marília ''emprestava'' as contas bancárias de forma consciente para movimentar o dinheiro do líder da quadrilha, Luiz André Ribeiro Fiúza. A editora também usava um Jeep Cherokee que pertenceria aos traficantes. Em certa ocasião, ela chegou a reclamar para Luiz André que os boletos de pagamento do Jeep da quadrilha estavam chegando ao trabalho, podendo comprometê-la.

A PF tem escutas telefônicas de ligações entre integrantes da quadrilha. O bando de Luiz André comercializava R$ 30 milhões em maconha e cocaína ao ano. Segundo um dos delegados responsáveis pela investigação, Luiz André era ''o senhor da vida e da morte'' na favela Tira Gosto, em Campos.

O traficante decidia as pessoas que morreriam na favela. Também resolvia quem poderia ficar vivo. Só nos últimos quatro meses, a PF contabilizou pelo menos cinco mortes que teriam sido executadas a mando de Luiz André. A mulher do traficante, Lucimara Lucas Amaral, também foi usada como ''laranja'', encarregada da lavagem do dinheiro.

Luiz André nunca ia à favela. Através de uma administração considerada pela PF profissional, ele repassava ordens para quatro gerentes do tráfico. Entre eles, Luiz Cláudio da Silva Santos, preso em Cabo Frio, e Fabrício Assiz Fiúza.

Durante a Operação Petisco, a PF cumpriu mandado de busca e apreensão na Casa de Custódia Dalton Castro, em Campos, onde foram recolhidos pacotes de cocaína, lâminas e material cortante.