Correio Braziliense, n. 20656, 12/12/2019. Brasil, p. 6

Ministro acusa, e UnB reage
Maria Eduarda Cardim


A administração da Universidade de Brasília afirmou, por meio de nota, que “acompanhou com indignação” as acusações do ministro da Educação, Abraham Weintraub, ontem, na Câmara dos Deputados, de que existem plantações de maconha dentro das universidades federais e que a UnB estaria entre elas. Em audiência na Comissão de Educação, ele exibiu reportagens sobre cultivo e consumo de drogas em diversas universidades públicas, dentre as quais uma, de abril de 2007, que mostrava a prisão de três pessoas suspeitas de plantar cannabis no câmpus da UnB.

“Esse é um material amplamente acessível, que eu encontrei na Internet e passou em vários noticiários. Isso para mostrar para os senhores a gravidade da situação. A UnB não tinha uma oficina clandestina para fazer patins para patinar no gelo no Lago Paranoá porque não há demanda para isso. O que havia era uma plantação de maconha no câmpus da universidade”, acusou.

A universidade, na nota, assegurou que já havia esclarecido o episódio citado pelo ministro, que ocorreu em uma área que não faz parte do câmpus. “Durante o processo de sindicância interna, foi confirmado, por meio de um parecer técnico, que o local da apreensão não pertence à UnB”, diz o documento.

Na nota, classificou o comportamento do ministro de “alarmante” e “espetaculoso”, ao associar a imagem da UnB a práticas ilícitas.

“Tais fatos sugerem que há uma perseguição contra a UnB, que é uma das melhores universidades da América Latina e patrimônio de todo o Brasil”, arrematou a nota.

O presidente do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes-SN), Antônio Gonçalves, endossou a posição da UnB. “A gente entende que o atual governo escolheu a educação superior como alvo dos seus ataques. Além do sufocamento financeiro, o governo trava uma luta cultural na busca por impor às universidades o pensamento único. Atacar universidades faz parte da política educacional desse governo.”

Além de afirmar que nos câmpus das universidades federais podem ser encontradas plantações de maconha, conforme acusou pela imprensa em novembro, Weintraub disse até que houve a utilização de um laboratório de uma faculdade pública para produção de drogas sintéticas.

A audiência foi cenário de diversos bate-bocas, sobretudo com parlamentares de oposição. A deputada Tábata Amaral (PDT-SP) foi uma das parlamentares que questionou as declarações de Weintraub.

“Por que o senhor vive buscando razões para perseguir as universidades? Esse problema das drogas é reconhecido pela sociedade brasileira, mas ele não é do ensino superior”, afirmou.

O deputado Marcelo Freixo (PSol-RJ) se retirou do plenário ainda no início da apresentação do ministro, afirmando ser “grave e lamentável” ter de ouvi-lo falar sobre este tema diante da crise vivida na educação.

“É um desrespeito tão profundo com a educação que eu estou me retirando. Tenho mais o que fazer da minha vida do que ouvir o ministro falar sobre isso”, disse. Parlamentares de direita aplaudiram a saída de Freixo do plenário em que acontecia a audiência.

Weintraub se defendeu afirmando que quer “salvar” as universidades federais. “Eu quero defender as federais. Estou tentando salvar a parte boa das federais, mas, para salvar a parte boa, precisamos reconhecer que existe uma parte que apodreceu”.

Avaliação de qualidade

Das mais de 2 mil instituições de ensino superior no Brasil, apenas 42 alcançaram o conceito máximo do Índice Geral de Cursos (IGC) e, destas, 12,4% são instituições públicas federais. Segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), a maior parte das instituições se encontra na média 3 de avaliação — 266 têm notas entre 1 e 2.

O diretor de tecnologia do instituto, Camilo Mussi, não considera as notas insuficientes. “Os cursos e instituições que têm nota 1 ou 2 estão abaixo da média, que é 3, mas não são necessariamente ruins. O Inep encaminha essas notas ao Ministério da Educação, que decide que ações vão tomar”.

O índice é calculado a partir da nota da instituição obtida nos últimos três CPC (Conceito Preliminar de Cursos), na avaliação da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Nível Superior), e a quantidade de alunos nos cursos de graduação e pós-graduação oferecidos. O CPC avalia os cursos de graduação de uma faculdade a partir dos resultados obtidos no Enade; da avaliação do corpo docente; da infraestrutura e de recursos didático-pedagógicos. (Colaborou Rafaela Gonçalves)