Título: Voto pela religião
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Fonte: Jornal do Brasil, 04/02/2005, Internacional, p. A7

Eleitores que votaram nas eleições presidenciais dos EUA, em novembro, mostraram uma nova polarização com base em crenças religiosas - fato que pode dificultar a volta dos democratas para a Casa Branca.

''Bush dependeu muito dos cristãos tradicionalistas, enquanto seu oponente democrata formou uma coalizão mais diversificada, com representantes de religiões menores, não-praticantes e cristãos liberais'', afirma uma pesquisa do Instituto Bliss de Política Aplicada da Universidade de Akron, em Ohio.

Segundo o estudo, provavelmente foi mais fácil para os republicanos mobilizar sua homogênea aliança do que os democratas a sua coalizão diversificada.

Tal polarização é novidade para o diretor do Instituto Bliss, John Green. Segundo ele, a tendência dificulta a sedução de eleitores moderados e atrapalha alianças sobre questões sociais, que beneficiariam todos os espectros da fé.

Os protestantes, que geralmente seguiam os republicanos, se dividiram entre Bush e Kerry, dando aos democratas o mais alto nível de apoio nos últimos tempos. Por outro lado, católicos não-latinos, que antes apoiavam os democratas, deram mais da metade de seus votos para Bush. Negros protestantes e católicos latinos também fecharam com republicanos, se comparado com 2000. O mesmo ocorreu com latinos protestantes.

De acordo com Green, Bush capturou votos de cristãos moderados, especialmente católicos - pessoas que os democratas têm de recuperar.

- Foi uma eleição na qual os dois lados conseguiram reunir os votos dos núcleos. O problema para os democratas é que o esforço, ainda assim, ajudou os republicanos - disse. Para 2008, estes não poderão contar tanto com o voto dos fiéis tradicionalistas e nem apostar na religião:

- Religiosos fervorosos podem formar base forte, mas não trazem a vitória. O partido precisa dos moderados. Ao mesmo tempo, a base democrata de fiéis progressistas e não-praticantes é menor e mais difícil de reunir. Eles terão que atuar em dobro - afirma Green. Para ele, Kerry se aproximou do voto não ligado às principais seitas, porém esse eleitor foi menos às urnas.

A pesquisa anual, a cargo do Fórum de Religião e Vida Pública, entrevistou 2.730 americanos, em meados de 2004 e depois de novembro. A margem de erro é de 2,5 pontos percentuais.