Título: ONU acusa diretor
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 04/02/2005, Internacional, p. A7

O primeiro informe sobre a investigação do programa das Nações Unidas Petróleo por Alimentos, aplicado no Iraque, foi divulgado ontem e trouxe evidências ''conclusivas'' de que o seu ex-diretor, Benon Sevan, ajudou o governo de Saddam Hussein a burlar o bloqueio comercial mediante o recebimento de propinas.

Sevan incorreu em infrações dos regulamentos da ONU na seleção de compradores do petróleo iraquiano, segundo o chefe da investigação, Paul Volcker. Ao todo, o programa movimentou US$ 64 bilhões entre 1996 e 2003.

Os investigadores descobriram uma operação que ''violou as normas de transparência e responsabilidade financeira da organização''. Trata-se da intermediação de Sevan para beneficiar uma empresa, a African Middle East Petroleum (Amep).

Em 1998, Sevan recebeu 1,8 milhão de barris de petróleo para que fossem trocados por alimento. Mas repassou-os à empresa, que vendeu o óleo para duas outras companhias com um lucro de US$ 300 mil. Em 1999, o diretor, associado a Amep e ao sócio da empresa, Fakhry Abdel Nour - obteve mais 2 milhões de barris. Novamente o produto foi vendido, com lucro de US$ 500 mil. Nos dois anos seguintes a Amep continuou recebendo barris e os desviando.

A situação é complicada também pelo fato de registros do governo iraquiano terem revelado que as transações eram assinaladas sob o nome de Sevan, porém sem a indicação de empresas. Em pelo menos uma ocasião, em outubro de 2001, a Amep depositou uma comissão de US$ 160 mil a uma conta bancária controlada pelo Iraque em um banco na Jordânia.

O relatório destaca a coincidência entre esse depósito e as declarações de rendimento de Sevan. Nestas, ele declarou ter recebido quatro pagamentos de US$ 160 mil entre 1999 e 2003. A justificativa foi uma pensão enviada por uma tia, uma fotógrafa aposentada que vivia em Chipre. Os investigadores da ONU descobriram que ela jamais tivera acesso a tanto dinheiro em toda a vida.

- O mais perturbador é que a acumulação de evidências de que o diretor do programa insistiu na alocação do petróleo em uma companhia pequena. O governo iraquiano certamente sabia que ele estava comprando influência. Esse programa se tornou a maior fonte de fundos ilícitos para o governo iraquiano, com o petróleo sendo contrabandeado via Turquia, Jordânia, Síria e Egito - afirmou Volcker.