Correio Braziliense, n. 20655, 11/12/2019. Mundo, p. 13

Bolsonaro "torce pelo país"


O presidente Jair Bolsonaro comentou a posse do colega argentino, Alberto Fernández, e destacou que o Brasil não pretende brigar com ninguém. “Queremos fazer comércio com o mundo todo”, afirmou. Ele admitiu, no entanto, que o peronista deverá ter dificuldades para governar, mas disse torcer pelo vizinho. “A Argentina também polarizou. Parecido aqui no Brasil. O partido do (ex-presidente Mauricio) Macri fez uma bancada grande. Vão ter probloemas para impor a sua política, no caso de Fernández. Estou torcendo para que a Argentina dê certo. Se bem que os números dizem que vão ter mais dificuldades do que nós”, acrescentou.

Depois de idas e vindas, o vice-presidente, general Hamilton Mourão, compareceu à cerimônia de posse de Fernández e, pelo Twitter, desejou que ambos os países construam relações melhores. “Missão cumprida! Depois de representar o governo de Jair Bolsonaro na posse do novo presidente da Argentina, expresso meu desejo de que as relações entre os nossos países sejam cada vez mais fortes, maduras e reciprocamente proveitosas”, tuitou.

“Eu decidi”

Na manhã de ontem, Bolsonaro rejeitou a tese de que o seu governo recuou ao enviar Mourão a Buenos Aires. O Planalto tinha desisitido de enviar um nome do primeiro escalão e, até a tarde de segunda-feira, o escolhido para representar o Brasil na solenidade em Buenos Aires era Sergio Danese, embaixador na Argentina. Antes, Osmar Terra, ministro da Cidadania, tinha sido anunciado. Questionado sobre a mudança de decisão, Bolsonaro disse: “Foi porque eu decidi”. “Vocês falam em recuo o tempo todo, como se o governo que dá cabeçada por aí. O recuo... às vezes você toma uma decisão antes de acontecer, né”, afirmou.

O presidente comparou o caso a um jogo de futebol: “Você vê técnico de futebol, muitas vezes o cara tá ali para entrar em campo, o cara se machuca, não é que errou, aconteceu um imprevisto. E na política tem imprevisto a todo momento”. A decisão pelo envio de Mourão à Argentina ocorreu apenas poucas horas antes da solenidade no Congresso da Nação Argentina.

O governo de Fernández marca o retorno do peronismo ao poder e a derrota de Macri, mais alinhado com Bolsonaro e que tentava a reeleição. A vice-presidente de Fernández é Cristina Kirchner, que governou a Argentina por dois mandatos e foi aliada dos governos petistas. O fato de o novo chefe de Estado ter se deixado fotografar fazendo gesto de “Lula livre” e comemorando a libertação do ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da  Silva também causou mal-estar no Palácio do Planalto.

Críticas

Bolsonaro e Fernández trocaram farpas durante a campanha eleitoral na Argentina. O brasileiro advertiu que, caso a “esquerdalha” retorne ao poder (em menção a Cristina Kirchner), o Brasil poderá ter um novo estado de Roraima no Rio Grande do Sul — alusão aos venezuelanos em fuga do país. Fernández buscou se distanciar de Bolsonaro, ao reitererar que, em termos políticos, “nada tem a ver” com ele. “É um racista, um misógino, um violento”, atacou.

O presidente do Brasil chegou a ameaçar abandonar o Mercosul, caso o peronista vencesse as eleições e colocasse entraves à abertura econômica da região. Depois, acenou com o isolamento de Buenos Aires no Mercosul. “Sabemos que a volta da turma do Foro de São Paulo da Cristina Kirchner pode, sim, colocar em risco todo o Mercosul. E em possivelmente colocando, repito, possivelmente, temos que ter uma alternativa no bolso”, disse.

Frase

“Missão cumprida! Depois de representar o governo de Jair Bolsonaro na posse do novo presidente da Argentina, expresso meu desejo de que as relações entre os nossos países sejam cada vez mais fortes, maduras e reciprocamente proveitosas”

Hamilton Mourão, vice-presidente do Brasil