Correio Braziliense, n. 20654, 10/12/2019. Brasil, p. 5

Educação contra a desigualdade
Maria Eduarda Cardim


Após reconhecer as desigualdades do Brasil indicadas no Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH) do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), divulgado ontem, o governo federal, representado pela secretária executiva do Ministério da Cidadania, Ana Maria Pellini, indicou que o país estará focado na correção desses desequilíbrios nos próximos anos do governo Bolsonaro. Ela acredita que a educação é a solução para uma sociedade mais equilibrada, e ainda afirmou que o Executivo estuda uma reformulação nos programas de transferência de renda, como o Bolsa Família.

De acordo com o RDH, a concentração da renda no Brasil continua sendo uma das mais altas do mundo. No Brasil, 1% dos mais ricos ficam com 28,3% da renda total do país. É a segunda maior concentração de renda do mundo nesta parcela da população. O Brasil está atrás apenas do Catar, onde 1% dos mais ricos concentram 29% da renda.

Ana Maria afirmou que o governo debaterá os resultados do relatório, acrescentando ser necessário criar estratégias para que essa população afetada pela desigualdade não viva apenas de programas de transferência de renda. “O governo estuda uma reformulação nos programas de transferência de renda para que a gente possa ter portas de saída pra todo mundo”, afirmou a secretária aos jornalistas na apresentação do relatório, em Brasília.

Ela explicou que o foco seria trabalhar com as famílias que recebem o Bolsa Família, por exemplo, para que tenham oportunidade de saída desses programas e possam conseguir uma vida melhor por “meios próprios”. No entanto, Ana Maria garantiu que as pessoas que necessitam terão sua bolsa garantida. “Sempre haverá aquele que precisará do governo, mas, quanto menor esse número, melhor”, ressaltou.

A secretária executiva afirmou que a educação é vista como uma saída para equilibrar o país. “Todos os países que conseguirem vencer essa desigualdade se utilizaram da educação de qualidade. Por isso, este é um mantra neste governo. Esse é o caminho. Não se conhece outro para trazer toda a população para um patamar mais igualitário”, completa.

Políticas sociais

A professora do Departamento de Serviço Social e do Núcleo de Análise e Avaliação de Políticas Públicas da Universidade de Brasília (UnB), Priscilla Andrade, avalia que o governo não deveria se preocupar com a saída de famílias desses programas, mas sim em discutir políticas sociais mais robustas e a concentração de renda.

Para a doutora em política social, é preciso reformular o sistema tributário. “Nós não temos um processo de distribuição de renda via tributação. Temos uma tributação regressiva. É preciso taxar grandes fortunas e lucros das empresas”, aponta.