Título: Aço faz Petrobras rever contratos
Autor: Ricardo Rego Monteiro
Fonte: Jornal do Brasil, 04/02/2005, Economia & Negócios, p. A17

Itens da P-51 têm reajuste de 30%. Fornecedores e firmas de engenharia também pressionam estatal

A alta dos preços internacionais do aço colocou em rota de colisão a Petrobras, prestadores de serviços e fornecedores de equipamentos para projetos no setor petrolífero. Em meio a uma queda-de-braço com a estatal, principal contratante do setor no país, empresas como o estaleiro Keppel Fels, de Cingapura, já arrancaram um reajuste de 30% em um dos itens do contrato de US$ 659 milhões para construção da plataforma P-51. Apesar de obter uma correção que poucos têm conseguido, o grupo tenta não só obter outros 30% de aumento, como também estender o benefício para a plataforma P-52, cujo contrato é de US$ 768 milhões.

O reajuste corrigiu os valores estimados pelo Keppel para os itens do contrato produzidos a partir do aço. Segundo executivos do setor, que não quiseram revelar os valores desses itens, um reajuste adicional no contrato da P-51 representaria um desembolso adicional entre US$ 6 milhões e US$ 7 milhões para a Petrobras. Executivos do grupo alegam, no entanto, que as chapas de aço necessárias aos dois empreendimentos (de graus 26 e 40) foram reajustadas pelas siderúrgicas, em média, 65% entre a data da licitação (segundo semestre de 2003) e o mês da assinatura do contrato (maio de 2004).

Apesar de alinhar grande parte das entidades representativas da indústria ao lado do estaleiro, os impactos da alta do aço sobre os serviços e equipamentos do setor petrolífero sensibilizaram apenas parcialmente a Petrobras. O gerente executivo de Engenharia da petroleira, Pedro José Barusco Filho, afirma que a empresa até admite negociar os contratos, mas desde que caso a caso. Como exemplo, cita o reajuste concedido à Keppel no projeto da P-51, que não seria extensivo à P-52 pelo fato de envolver diferentes prazos e datas de assinatura.

O executivo do Keppel Fels, que constrói as duas plataformas no estaleiro que controla no Brasil, o Brasfels (antigo Verolme), em Angra dos Reis (RJ), faz questão de dizer que, ao contrário do ocorrido nos casos da P-43 e da P-48 - cujas obras foram gerenciadas pela KBR, subsidiária da americana Halliburton -, os projetos não correm o risco de sofrer atraso por conta dessa pendência.

- Tanto a P-51 quanto a P-52 estão com o cronograma em dia. Não ocorrerão atrasos - diz.

O cenário de alta demanda por aço preocupa não só empresas do setor naval. Fornecedores de produtos como a Protubo, especializada em curvatura de tubulações para dutos e gasodutos, admitem que não têm mais como segurar os repasses dos preços do aço - que aumentaram até 60% no último ano - para os contratos com a Petrobras. O gerente comercial da Protubo, Carlos Tavares, afirma que a empresa - presente em alguns dos mais importantes projetos de gasodutos do país - não tem conseguido fugir de atrasos de até dois meses para conseguir honrar os contratos com a estatal. Diante do que classificou como escassez de matérias-primas para os tubos, Tavares diz que os prazos de entrega têm sido dilatados de dois para quatro meses.

A Skanska Engenharia e o grupo MPE, que firmaram contratos para projetos de refino e gás natural, têm sofrido na carne as conseqüências da alta dos insumos. A primeira, que firmou dois contratos de EPC (Engineering, Procurement and Construction) para a modernização da refinaria Alberto Pasqualini (Refap), no Rio Grande do Sul - de US$ 70 milhões -, viu a rentabilidade dos contratos desabar com a alta de insumos como aço. Assinado em meados de 2003, o contrato envolve uma obra prevista para ser concluída em meados deste ano.

Preocupada com o atual cenário de preços às vésperas da licitação dos 22 petroleiros da Transpetro - subsidiária de logística da Petrobras -, a Organização Nacional da Indústria do Petróleo (Onip) reuniu seus associados com empresários do setor siderúrgico no último dia 27, no Rio. Na ocasião, as siderúrgicas revelaram que os preços do aço deverão sofrer reajustes de 20%, em média, ao longo deste ano.