O Globo, n. 31548, 22/12/2019. País, p. 8

‘Se eu não tiver a cabeça no lugar, eu alopro’, diz Bolsonaro

Jussara Soares


O presidente Jair Bolsonaro disse, ontem, que há abuso do Ministério Público (MP) nas investigações sobre a suposta prática de “rachadinha” no antigo gabinete de seu filho Flávio na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). Bolsonaro defendeu um controle sobre o órgão, mas afirmou não fazer qualquer movimento para atrapalhar a investigação. — Então, a questão do MP. Tá sendo um abuso. É o que noto. Qual a interferência minha? Zero — disse o presidente, que recebeu no Palácio da Alvorada jornalistas que cobrem o dia-a-dia da Presidência, para um balanço de seu primeiro ano de mandato.

Ele aceitou conceder a entrevista, mas pediu aos repórteres paranã o questionarem sob reavida pessoal. Durante a conversa, disse que encerraria a entrevista se fizessem “alguma pergunta chata.” Em seguida, sobre as investigações de Flávio, ele afirmou que não daria espaço amais questionamentos sobre o tema: — Vou responder sema réplica. O processo está em segredo de Justiça? Te respondo, tá. Que mé que julga. O MP ou juiz? Os caras vazam e julgam, paciência, pô. Bolsonaro afirmou ainda que há um “estardalhaço” com objetivo de promover um desgaste. Ele criticou o vazamento de detalhes da investigação que estão sob segredo de justiça.

— Qual é a intenção? Um estardalhaço enorme. Será porque falta materialidade para ele e oque vale é o desgaste agora? Quem está feliz com essa exposição aí absurda na mídia? Alguém está feliz com isso — disse, sinalizando que o assunto o incômoda:

— Agora, se eu não tiver a cabeça no lugar, eu alopro. Bolsonaro defendeu uma forma de controle do Ministério Público, que não seja exercida pelo Executivo:

— Todo poder tem que ter uma forma de sofrer um controle. Não é do Executivo, é um controle. Quando começa a perder o controle, busca pelo e movo. E usou ré uno Supremo (Tribunal Federal), sofri muito processo, os mais variados possíveis.

O presidente lembrou que o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) repassou dados de seu filho Flávio e criticou a divulgação das informações pelo MP. — Por exemplo, se entra na conta de uma funcionária R$ 60 mil, ela botando na minha conta. Vai ser um escândalo. No dia seguinte, vou mostrar que vendi o carro para ela. Já está feita a besteira. É assim que se deve comportar o Ministério Público? — questionou. Ao falar sobre a investigação envolvendo Flávio, Bolsonaro voltou a insinuar a interferência do governador do Rio, Wilson Witzel (PSC).

— Acabou as eleições, sobe à cabeça dele e quer ser presidente da República. E começa esse inferno na minha vida — disse Bolsonaro.