Correio Braziliense, n. 20652, 08/12/2019. Política, p. 6

PSDB entre eleitores de Lula e Bolsonaro
Renato Souza


Na tentativa de recuperar capital político, o PSDB lançou uma nova estratégia para conquistar eleitores que se distanciaram do PT e que reprovam o governo do presidente Jair Bolsonaro. Em congresso realizado ontem, o partido aprovou uma série de princípios para tentar se afastar de radicalismos pregados pelo atual governo, ao mesmo tempo em que decide apoiar reformas econômicas e políticas liberais. A sigla também demonstrou que se prepara para ter um candidato próprio nas eleições de 2022. O pleito municipal do ano que vem servirá como teste para o que está sendo chamado, pelos tucanos como o “novo PSDB”.

As novas diretrizes, que não se distanciam muito de discursos anteriores, mas têm posicionamento mais forte em alguns temas, partiram de uma pesquisa feita pela internet com filiados e apoiadores da legenda. Em um documento apresentado no congresso, a direção do partido defende as pautas que devem nortear a legenda até 2022. Entre elas, estão as reformas econômicas, a geração de empregos, a responsabilização de menores de 16 anos que cometem crimes e uma agenda de privatizações. Por outro lado, o texto faz várias críticas ao atual governo, falando da necessidade de ampliar programas sociais, aprofundar a transferência de renda, aumentar o controle da posse e do porte de armas de fogo. E se posiciona contra qualquer interferência do Estado nos comportamentos individuais.

Um dos trechos do documento diz que o partido assume o “compromisso com a recuperação do país”, para que o Brasil “supere a herança ruinosa e o atoleiro de anos de estagnação deixados pelo petismo”.

Principal candidato à indicação do partido para a disputa presidencial em 2022, o governador de São Paulo, João Doria, defendeu posicionamentos mais fortes do PSDB em relação aos programas de governo e criticou o extremismo político. “A época do muro acabou. Enquanto ele existiu, talvez tenha sido próprio e adequado. Hoje, o que os brasileiros esperam do novo PSDB é atitude, lado. O novo PSDB tem lado. Está ao lado do povo e não tem medo de fazer a defesa de programas e teses que representem o interesse do povo. Nada de ficar na dúvida, nada de ficar em cima do muro, nada de tentar agradar a todos e a não agradar a ninguém”, disse Doria.

O governador de São Paulo afirmou ainda que quem vencer deve governar o país sem acirrar a polaridade política. “O ódio não constrói, o ódio destrói. Disputar uma eleição, interna ou externa, é parte do jogo. Mas sem ódio, sem destruir, sem agredir”, completou.

 

Princípios

Também visto como potencial candidato, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, defendeu o incentivo ao empreendedorismo e, ao mesmo tempo, o fortalecimento das políticas sociais. Em conversa com o Correio, ele negou que a sigla estea se aproximando da direita. “É uma reafirmação de princípios, atualizados ao novo momento político. Sobre a reforma do Estado, defendemos parceria com a iniciativa privada, pois o Estado não precisa ser o executor direto de determinadas políticas públicas, privatizando, concedendo e regulando. Mas se reafirmaram alguns princípios importantes. O PSDB e a sua base entendem que é fundamental a participação do Estado na promoção social, na inclusão, em políticas públicas afirmativas e no respeito à diversidade. De maneira alguma é uma guinada à direita, como muitos estão dizendo”, disse.

O chefe e do Executivo gaúcho declarou apoio à proposta de uma renda mínima universal, ou seja, para todos os cidadãos. “Um dos itens de discussão foi o combate à pobreza. Essa é uma pauta mundial. A mudança do perfil econômico que estamos vivendo faz com que boa parte da população fique marginalizada em função da extinção de empregos. As novas vagas que são criadas não absorvem a todos. É importante que o governo possa olhar para essas pessoas. Não podemos deixar essa parcela da população à margem. Temos que ter uma política de distribuição de renda, que devem ser acompanhadas de ocupação, tarefas”, ressaltou.

Eduardo Leite também criticou posições radicais na política, que cerceiam liberdades de minorias. “Democracia não é a ditadura da maioria. É a oportunidade de a maioria escolher o caminho e as minorias terem a chance de contestação. Se suprimimos as liberdades das minorias, vamos jogá-las no radicalismo. Se elas não virem chances de suas teses vencerem, se rebelam contra o sistema”, completou.