Correio Braziliense, n. 20627, 13/11/2019. Política, p. 2

Bolsonaro criará partido para chamar de seu

Rodolfo Costa 
Ingrid Soares


O presidente Jair Bolsonaro anunciou, ontem, a desfiliação do PSL e oficializou as tratativas para a criação de partido próprio, o Aliança pelo Brasil. O estatuto está pronto e será apresentado em cerimônia em 21 de novembro, em Brasília, no Royal Tulip Alvorada, às 10h. Os detalhes mais superficiais foram dados por deputados que se reuniram com o chefe do Executivo federal, no Palácio do Planalto. As ações estratégicas, contudo, permanecem sob sigilo. A expectativa da cúpula governista é de que a futura legenda esteja criada até março do ano que vem, a fim de disputar as eleições municipais.

A assinatura da desfiliação de Bolsonaro, por ora, não foi feita, diferentemente da do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), que, ainda ontem, deu entrada no processo junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), conforme afirmou a deputada federal Bia Kicis (PSL-DF), vice-líder do governo no Congresso. Neste momento, deputados, eleitos pelo sistema proporcional, não podem anunciar a migração para o Aliança. Ao contrário de senadores, prefeitos, governadores e do presidente da República, eleitos no sistema majoritário, os parlamentares da Câmara não são “donos” de seus mandatos.

O deputado Daniel Silveira (PSL-RJ) estima que, dos 53 deputados do partido, 30 migrarão, quando possível, para a nova legenda. Aliados de Bolsonaro acreditam que esse número possa chegar a 35, com um mínimo de 27. Cravada a projeção de Silveira, seria o nono maior partido da Câmara. Contudo, parlamentares de outras siglas também estudam uma futura filiação, afirmam pesselistas. São os casos dos deputados Delegado Éder Mauro (PSD-PA), Capitão Derrite (PP-SP) e Otoni de Paula (PSC-RJ).

As estratégias e prioridades eleitorais para 2020 ainda são uma incógnita. Mas o Aliança pelo Brasil começaria sendo um partido relevante. A deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) diz que o governador de Rondônia, Marcos Rocha (PSL), e a vice-governadora, Daniela Cristina Reinehr (PSL), sinalizaram a disposição de migrar para a futura legenda. O governador de Roraima, Antonio Denarium (PSL), é outro que pode embarcar. Contudo, o governador de Santa Catarina, Carlos Moisés (PSL), deve permanecer no partido. Deputados estaduais também devem anunciar filiação. O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) celebrou, no Twitter, a futura legenda. “Com base sólida conservadora, faremos do tsunami de 2018 uma onda permanente”, sustentou.

Resistência

A fim de evitar suspeitas de corrupção no partido, como candidaturas fantasmas, um dos motivos que irritaram Bolsonaro e abriram as portas para a ruptura com o PSL (leia Memória), o Aliança vai propor transparência nas contas e um regime de compliance, afirmou Zambelli. “O partido será completamente transparente, com todas as contas on-line, abertas a todas as pessoas que queiram saber do partido”, afirmou.

A deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) alfinetou o anúncio. Disse que a desfiliação de Bolsonaro é a “melhor decisão para ambos”. E reiterou que o processo não será simples, destacando que os governistas precisarão validar 490 mil assinaturas de eleitores não filiados a um partido político no cartório eleitoral. “É um processo que não ocorre de uma hora para outra”, declarou, avisando que o PSL vai trabalhar para que evitem a validação do Aliança pelo Brasil. A ideia dos governistas, por sua vez, é usar as redes sociais do presidente e dos aliados para colher, com auxílio de apoiadores, as assinaturas necessárias. (Colaborou Luiz Calcagno)