Título: Serra corre contra o tempo
Autor: Wallace Nunes
Fonte: Jornal do Brasil, 06/02/2005, País, p. A6

O tucano José Serra corre contra o tempo para fazer da prefeitura paulistana uma plataforma para 2006. Durante a campanha no ano passado, ele e seu partido alardearam que conquistar a maior cidade do país seria o caminho mais curto para voltar ao Palácio do Planalto e manter o governo do estado de São Paulo. Tal tarefa tem um ano para ser cumprida: em abril de 2006, os ocupantes de cargos executivos precisam deixar suas cadeiras para concorrer nas eleições.

Mas, à medida que o prefeito toma conhecimento da situação financeira da cidade, aumenta seu desconforto. A lua-de-mel com sua antecessora Marta Suplicy (PT) faz parte do passado.

Durante toda a semana passada, Serra disse que a saúde financeira da cidade está um caos e publicamente fez pesadas críticas à ex-prefeita petista. Na quarta-feira, Serra disse que a corrupção era ''tão grande que a cidade se tornara uma Chicago dos anos 30'' - em alusão aos gângteres que corrompiam fiscais da cidade norte-americana.

Em discurso feito na posse de desembargadores do Tribunal de Justiça de São Paulo, ele acusou a ex-prefeita de ter descumprido a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) por não ter deixado dinheiro em caixa para saldar os débitos com os credores. A atual administração estaria renegociando muitos dos acordos firmados na gestão passada.

- Cabe à Justiça julgar se realmente houve o descumprimento da Lei, mas particularmente vejo que isso ocorreu - disse o prefeito.

Os problemas financeiros deixados por sua antecessora inviabilizam, temporariamente, a plataforma política pregada pelos tucanos durante a campanha eleitoral do ano passado e pode vir a comprometer a imagem de Serra, que nunca havia sido eleito para um cargo no Executivo. Também é a primeira vez que o PSDB ocupa a Prefeitura de São Paulo.

Para não deixar transparecer à população a idéia de que o prefeito está com as mãos amarradas por conta das dívidas de curto prazo, o tucanato municipal armou uma espécie de plano B, que consiste em limpar a cidade e realizar projetos considerados emergenciais.

Rever contratos, paralisar obras que excedem gastos no orçamento, tapar buracos e recolher entulho próximo dos córregos também está nos planos da atual administração. Integrantes do governo municipal negam essa versão:

- Não existe nenhum plano B. Estamos empenhados em arrumar todas as finanças, além de melhorar a qualidade de vida da cidade - rebate o secretário municipal das Subprefeituras, Walter Feldman.