Título: Medo de deixar de existir como cidadão
Autor: Gustavo Igreja
Fonte: Jornal do Brasil, 06/02/2005, Brasília, p. D3

Independentemente de perder o domínio sobre os poucos bens que ainda afirma possuir, o que não aceita Seu Itamar é, especialmente, ''deixar de existir como cidadão'', como não cansa de afirmar, e ficar refém ''da vida solitária e triste'' que hoje leva junto à família. - Um laudo dele me apontou doido. O outro, não. Não é porque sou velho que sou incapaz. Se eu pudesse, vendia o pouco que tinha e arrumava uma casinha para viver sozinho e morrer sozinho. As coisas ficaram difíceis para mim depois que minha esposa morreu, por desgosto com o filho. Esse país maltrata demais o velho - lamenta ele.

A promotora do MPDF Sandra Albuquerque, que acompanha o caso, afirma que, de fato, não é porque uma pessoa é idosa que pode ser interditada. De acordo com ela, se um laudo aponta existir apenas uma limitação da idade, então não há motivo para a interdição.

- Não se pode dizer nada sobre quem tem a razão nesse caso porque ele está ainda sob júdice. Mas velhice não é mesmo motivo para interdição de alguém. Por esse lado, a revolta dele é justificada. Até provar que não precisa e não pode ser interditado, quem está nessa situação passa por um enorme desgaste. Geralmente, pessoas alvos dos processos precisam da interdição - comenta.

Até o desfecho do processo, seu Itamar vai levando a vida passando a menor quantidade de tempo possível dentro de casa. Na rua, procura amigos, conversa, desabafa, pede ajuda e até assinaturas das pessoas que estiveram com ele e ouviram a história. A intenção é, um dia, conseguir fazer chegar ao presidente da República a suposta injustiça. Talvez, mudar a lei.

- Quanta gente já não deve ter passado por isso? E, aqui, em Brasília, eu ainda consigo um ou outro que me ouça. Mas pensa em alguém do interior... - justifica.

Sobre o caso, a única coisa que a promotora Sandra Albuquerque se permite comentar é que o Ministério Público ficará atento ao caso.

- Nada é definitivo. Mas ficaremos muito atentos a esse caso. Muito - promete.