Título: Aliados cobram pastas com ''caneta, verba e tinta''
Autor: Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 06/03/2005, País, p. A2

BRASÍLIA - Não basta ser ministro, tem que participar. De preferência, com verba disponível. Sob esse lema, os partidos da bancada governista intensificaram na última semana a pressão sobre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva por um lugar ao sol no Ministério na reforma que se avizinha. Ou seja, vale tudo para entrar na Esplanada, desde que não seja para um ministério esvaziado.

Pensando nas eleições de 2006, os aliados, em sua maioria com projetos políticos em mente, cobiçam os ministérios chamados municipalistas, com ''caneta, verba e tinta'', pelo qual poderão contemplar suas bases e conseqüentemente pavimentar o caminho rumo à vitória nas urnas. São municipalistas, por exemplo, os ministérios das Cidades, da Integração Nacional, do Desenvolvimento Social, da Saúde e do Desenvolvimento Agrário. Em contrapartida, pastas com pouca visibilidade e que sofreram cortes profundos no orçamento na última semana são encaradas como fonte de dor de cabeça e noites mal-dormidas. É o caso dos Transportes, Ciência e Tecnologia, Cultura, Planejamento, Trabalho e Previdência.

A única pasta incluída no rol das ''sem verba'' que é alvo da cobiça é a Coordenação Política, pelo poder e projeção que proporciona. Não por acaso, os petistas a ambicionam. E sugerem a transferência do atual titular, Aldo Rebelo (PCdoB), para o ministério do Trabalho. A idéia soou jocosa para os aliados do ministro. É que em tempo de reforma trabalhista, o ministério do Trabalho se transformou num vespeiro em potencial.

- Os petistas querem Aldo no Trabalho? É a mesma coisa que mandar José Dirceu para o ministério dos Esportes - ironizou um aliado de primeira hora do ministro da Coordenação Política.

O Ministério da Saúde, por exemplo, hoje sob a batuta de Humberto Costa, uma das poucas pastas poupada do corte decretado por Lula semana passada, é a menina dos olhos do PP e do PT. No último ano, a pasta registrou uma das maiores execuções orçamentárias. A possibilidade de fazer política sem burocracia é um dos atrativos. O ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, nunca escondeu o desejo de tocar a transposição do Rio São Francisco, obra de repercussão social e que vai beneficiar a agricultura de exportação no Nordeste. Mas admite remanejamento se o seu destino for a Saúde.

Ciro é considerado o coringa do presidente. Sua transferência teria o objetivo de acomodar na Integração, uma das pastas mais cobiçadas, o PMDB ou o PP. Na última semana, foram especulados os nomes da senadora Roseana Sarney (PFL-MA) e do ministro das Comunicações, Eunício Oliveira (PMDB-CE).

Os ministérios das Cidades e do Desenvolvimento Social também são alvo da cobiça dos ministeriáveis. A contradição é que as duas pastas também perderam bastante gordura financeira no corte da semana passada. A pasta das Cidades, por exemplo, ficou com R$ 731,6 milhões disponíveis, diante dos R$ 2,7 bilhões previstos para 2005. A do Desenvolvimento Social teve um bloqueio de R$ 1,2 bilhão.

- Os cortes preocupam pois colocam em risco ações e projetos em andamento - extravasou Olívio Dutra.

O desabafo de Olívio gerou mal-estar no Planalto. O gaúcho, que já era um alvo em potencial da reforma, teve sua situação agravada, subiu novamente no telhado, segundo um interlocutor do presidente. Ao mesmo tempo em que Olívio torce o nariz para o orçamento contingenciado em seu ministério, acrescentou o interlocutor palaciano, ''há uma legião de partidos interessados no cargo, aguardando só o sinal verde de Lula''.