Título: Eleições estaduais preocupam o PT
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 06/03/2005, País, p. A4

O PT tem um longo ano para aprender a equilibrar suas forças políticas internas. Em 2006, o partido terá o desafio de brigar pela reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva. Em paralelo, buscará cacifar-se no cenário político, emplacando candidatos vitoriosos nas disputas para os governos estaduais. Essa alquimia, sonho de de qualquer partido, pode transformar-se também em perdição: o PT conseguirá domar seus egos e demônios interiores para que as disputas regionais não destruam o projeto nacional de mais quatro anos para Lula?

- Não podemos continuar dando sopa para o azar, tem gente que só está pensando em seu próprio umbigo. Tem que baixar a bola, porque, se o governo estiver mal, todos perdemos - resumiu o deputado Carlito Merss (PT-SC).

O centralismo democrático do PT, ao misturar discussões nacionais com disputas locais, já demonstrou que tem um efeito devastador. Em 1998, quando Lula convidou Leonel Brizola para ser vice na corrida presidencial, os petistas tiveram que abater em pleno vôo a candidatura de Vladimir Palmeira ao Palácio Guanabara. E engoliram a do então pedetista, Anthony Garotinho, hoje ferrenho opositor do governo federal.

A situação agora é mais complicada, já que as brigas são intestinas. Dois estados saltam aos olhos como exemplos de complicações políticas: Rio Grande do Sul e São Paulo. Em ambos os casos, a intensa disputa interna pode deixar o PT nacional sem rumo. Em São Paulo, três medalhões do partido brigam pela cadeira do Palácio dos Bandeirantes: a ex-prefeita Marta Suplicy, o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante e o deputado e ex-presidente da Câmara, João Paulo Cunha.

Cada um deles conta com um trunfo, o que torna a disputa ainda mais imprevisível. Marta sai fortalecida, após quatro anos como prefeita da capital. Mercadante tem a preferência de Lula e o fôlego invejável de 10 milhões de votos na eleição para o Senado, em 2002. E João Paulo tem feito um trabalho de base no interior paulista.

- Há uma paranóia muito grande, mas, independente do resultado, o escolhido não pode desvencilhar-se do projeto nacional - cobra o deputado Luciano Zica (PT-SP).

Por enquanto, essa distinção não tem ficado muito clara. Após a eleição de Severino Cavalcanti (PP-PE), emissários do Planalto fizeram chegar aos ouvidos de João Paulo que ele seria convidado para a liderança do governo na Câmara. Em troca, desistiria do governo paulista. Conforme apurou o JB, João Paulo só aceitaria a proposta com um upgrade no posto: em vez de derrubar o atual líder, deputado Professor Luizinho (PT-SP), ele preferia destronar o ministro da coordenação política, Aldo Rebelo. Vitrine demais na opinião de Mercadante, que começou a trabalhar para anular os planos de João Paulo.

- Não existe uma alquimia, uma saída mágica para evitar o trauma e o tensionamento partidário - confirmou um petista.