Título: Guerra contra transgênicos continua
Autor: Gisele Teixeira
Fonte: Jornal do Brasil, 06/03/2005, País, p. A5

Brasil vai receber 30% da verba do Greenpeace para campanha contra organismos geneticamente modificados

- A aprovação do Projeto de Lei de Biossegurança na Câmara não vai abrandar a briga do Greenpeace contra a utilização de organismos geneticamente modificados (OGMs). Pelo contrário. A ONG promete reforçar ainda mais sua estratégia de comunicação no Brasil nesta área. O Greenpeace planeja destinar ao país, em 2005, 30% da verba mundial da campanha contra os transgênicos que, em 2003, chegou a 1,5 milhão de euros.

O Greenpeace entende que perdeu a batalha jurídica e política, mas não a guerra. E destaca que o objetivo agora é aumentar o conhecimento dos consumidores e agricultores sobre o tema, além de forçar o cumprimento da lei de rotulagem, que não está sendo obedecida pelas empresas de alimentos.

- Daqui para frente, somente a pressão da sociedade pode banir a utilização de organismos geneticamente modificados em produtos alimentícios no Brasil, a exemplo do que já aconteceu em outros países - afirmou Isabele Meister, diretora da campanha de engenharia enética do Greenpeace para América Latina e Ásia.

Isabele participou do encontro anual de especialistas em engenheria genética do Greenpeace, que aconteceu pela primeira vez no Brasil este ano. Profissionais de mais de 20 países escolheram a cidade de Curitiba para sediar os debates, nos últimos dias de fevereiro. O Paraná se declara um estado livre de transgênicos, e quer ganhar o mercado mundial como grande fornecedor de soja convencional e orgânica.

Em função do papel estratégico que exerce na América Latina, e do volume de grãos que produz, o Brasil entrou na lista de nações prioritárias a serem trabalhadas este ano pelo Greenpeace.

- O Brasil é um país chave no continente e um dos maiores exportadores de soja do mundo. O que acontece aqui repercute no planeta - acrescentou Isabele.

Coordenador da campanha de engenharia genética na China, Angus Lam Chi Kwong contou que desde que o Greenpeace lançou o guia de produtos com ou sem transgênicos em seu país, em abril do ano passado, 52 empresas se comprometeram a não utilizar matéria-prima transgênica em seus produtos. Entre elas, estão as multinacinais Lipton e a Danone.

- A China importa 31% da soja que consome do Brasil. Por isso a importância de manter, pelo menos um porto do país, o de Paranaguá, livre de contaminação de OGM - disse Chi Kwong, acrescentando que 57% da população chinesa não quer comprar produtos que contenham matéria-prima transgênica.

Na União Européia, 57 das 60 maiores empresas alimentícias também tomaram a decisão de não comercializar transgênicos no bloco.

- Juntas, elas representam 70% do mercado de alimentos e bebidas e movimentaram 650 bilhões de euros em 2003 - informa Lindsay Keenam, analista de mercado do Greenpeace, acrescentando que isso aconteceu em função do alto índice de rejeição aos transgênicos na UE.

Os especialistas dizem que estes movimentos são um sinal ao Brasil e que se o país não suprir a demanda por soja convencional e orgânica, outras nações o farão.

O movimento para aumentar o nível de informação da população brasileira sobre tema vem ganhando força desde o ano passado. Durante o segundo semestre de 2004, o Greenpeace esteve em 11 capitais do país, levando a discussão dos transgênicos para as ruas. Foram distribuídas 100 mil cartilhas para os consumidores.

Mas os agricultores também serão o foco este ano. O engenheiro agrônomo da Ong Ventura Barbeiro ressalta que o produtor tem pouca informação sobre a transgenia e que, por isso, acredita que os custos da produção sejam menores.

- A soja transgênica não foi elaborada para produzir mais, mas apenas para ser mais resistente ao herbicida - salientou, acrescentando, no entanto, que a vantagem cai por terra, porque o uso do herbicida aumenta com o passar dos anos.