Título: Molon: Alerj é o quintal de Rosinha
Autor: Paulo Celso Pereira
Fonte: Jornal do Brasil, 06/03/2005, País, p. A6
Um jogo de cartas marcadas. Assim tem sido o dia-a-dia na Assembléia Legislativa do Rio. Dos 70 deputados, o governo tem hoje o apoio de cerca de 50 parlamentares, o que representa cerca de 70% em plenário. Comandado pelo PMDB, com 20 parlamentares, e pelo PSC, com 10, a oposição tem sido relegada ao papel de mera espectadora das decisões dos partidos majoritários.
Para o deputado Alessandro Molon (PT), único a votar contra a reeleição de Jorge Picciani (PMDB) para a presidência da Casa, o governo tem conseguido transformar a Alerj na continuação do Executivo.
- O governo tem um rolo compressor, faz com que o Legislativo deixe de zelar pelos interesses da população. Aqui vale mais a vontade da governadora do que o interesse das pessoas que elegeram os deputados. Há uma postura de total submissão e subserviência à Rosinha. A Alerj tem se comportado como o quintal do Executivo - dispara.
A oposição é constituída por PT, PSDB, PDT e PV, que juntos somam 16 deputados. Além deles, alguns dissidentes acompanham o bloco, mas não alcançam força expressiva. Para José Bonifácio (PDT), a maior dificuldade tem sido derrubar os vetos da governadora.
- Às vezes, até um projeto aprovado por um deputado da base do governo, a governadora tem vetado. E de modo geral, quando eles voltam para a Casa, tanto o líder do governo quanto o do PMDB, e até o Picciani, se manifestam antes da votação dando a orientação do governo para os deputados da base. Assim fica muito difícil - reclama.
Para a oposição, a subserviência da bancada governista tem limado um dos princípios da República: a independência entre os três Poderes. Segundo o deputado Luiz Paulo, vice-líder do PSDB, um maior equilíbrio de forças permitiria um enriquecimento do debate sobre políticas públicas.
- Esses programas de R$ 1 são de um populismo absoluto. Isso faz parte de uma política desastrada, a aplicação do neopopulismo pentecostal. Quando o governo tem um rolo compressor, o barulho da oposição fica minimizado - garante.
Paulo Melo, líder do PMDB, não vê razão nas queixas da oposição nem considera papel dos aliados fazer críticas públicas:
- Crítica é papel da oposição. Nós fiscalizamos. Como líder da bancada do governo já pedi várias vezes auditorias. Mas é óbvio que, se você faz parte da base, não vai criticar. Todos da oposição já foram governo e, naquela época, nunca vi criticarem.
Ao contrário de Melo, Molon, que está no primeiro mandato, vê a crítica como possibilidade de controle:
- A maneira mais inteligente que se descobriu de frear o poder foi dividi-lo em órgãos independentes para que um freie os outros. E isso inexiste no Rio. A mão de ferro do estado encontra deputados que se curvam aos desejos da governadora. Essa força o governo conquista com a indicação de afilhados ou coisa que o valha.