Correio Braziliense, n. 20628, 14/11/2019. Brasil, p. 6

Com educação e sem renda

Maria Eduarda Cardim


IBGE mostra que a população negra/parda é maioria nas universidades públicas, e 50,3% dos estudantes de ensino superior público vêm desse segmento. Porém, uma vez no mercado de trabalho, a realidade é de um rendimento médio mensal 73,9% menor

No mês em que se celebra o Dia Nacional da Consciência Negra, o estudo Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil, do IBGE, mostrou que a população negra/parda é maioria nas universidades públicas: 50,3% dos estudantes de ensino superior público vêm desse segmento da sociedade. Mas o rendimento médio mensal do trabalhador negro/pardo é 73,9% menor.

Em 2018, o rendimento médio mensal de um assalariado branco foi de R$ 2.796; o de um negro/pardo, R$ 1.608. Nos últimos quatro anos, esse padrão se repetiu e a desigualdade se manteve estável.

De acordo com especialistas, e o próprio IBGE, as desigualdades têm origens históricas. Por isso, ainda é difícil enxergar, de fato, os avanços da população negra/parda. Para o coordenador do programa de pós-graduação de Economia da Universidade Católica de Brasília, José Angelo Divino, a melhoria nos índices educacionais é fundamental para a redução da discrepância salarial.

Além do salário, a desigualdade racial pode ser vista na ocupação dos cargos de gerência. A maioria desses postos, 68,6%, é ocupada por brancos, enquanto negros/pardos estão em 29,9%. O cenário da discrepância salarial se mantém, independentemente do nível de instrução das pessoas empregadas, mas a maior diferença é notada entre as que possuem o ensino superior completo. O que reforça que o hiato salarial ocorreria simplesmente por discriminação.

A melhora dos indicadores educacionais também foi vista na taxa de analfabetismo, mas a desigualdade entre raças também é notada na pesquisa. O índice daqueles que não sabem ler ou escrever entre pretos/pardos de 15 anos ou mais passou de 9,8% para 9,1%, de 2016 para 2018. Entre os brancos, o percentual é quase três vezes menor: 3,9%.

Um avanço referente à presença da população negra nas universidades foi o aumento do índice de jovens negros/pardos, de 18 a 24 anos, que cursam o ensino superior, em relação a 2016. Naquele ano, 50,5% desses jovens frequentavam faculdades; em 2018, saltou para 55,6% — ainda inferior aos 78,8% dos brancos da mesma faixa etária, no mesmo ano.

No Distrito Federal, o percentual de brancos que frequentava ou tinha concluído o ensino superior, em 2018, era de 56,1%, enquanto o de pretos/pardos totalizava apenas 35,8%.

A coordenadora do curso de Serviço Social da Universidade Católica de Brasília, Moema Bittencourt, acredita que a melhora da educação não é capaz de mudar essa realidade. “Há um processo de desigualdade na política de emprego.”