Título: Iraquianas acreditam em futuro melhor
Autor: Olivia Hirsch
Fonte: Jornal do Brasil, 06/03/2005, Internacional, p. A8

Mulheres de várias partes do mundo vão comemorar na terça-feira, dia 8 de março, o Dia Internacional da Mulher. Mas há as que ainda têm muito pouco para celebrar. No Iraque, por exemplo, as festas pela data prometem ser tímidas. Nos últimos meses, várias foram as vítimas do sexo feminino seqüestradas, agredidas ou mortas pela insurgência. E qualquer que seja a profissão ¿ de farmacêuticas às que atuam em áreas governamentais ¿, aquelas que têm idéias consideradas progressistas correm risco.

Mas elas não perdem a esperança. Segundo uma pesquisa divulgada no mês passado pela organização Women For Women International (WWI), que atua no país desde o início da invasão americana, 90% das mil mulheres entrevistadas acreditam que a situação vai melhorar. A sondagem foi conduzida em sete cidades nas províncias de Bagdá, Mossul e Basra.

De fato, há sinais, ainda que tênues, de que isso está ocorrendo. Durante as eleições gerais, um terço das cadeiras foi preenchido por mulheres ¿ dado superior à cota prevista, de 25%.

¿ Foi a primeira vez que isso aconteceu, o que é muito encorajador ¿ destaca Manal Omar, 29 anos, diretora do programa para o Iraque da WWI, em entrevista por telefone ao JB.

Segundo Omar, as mulheres foram marginalizadas tanto pela Autoridade de Transição quanto pelo Conselho Governamental Interino, ambos apontados pelos Estados Unidos, já que sequer preencheram as cotas destinadas a elas e propostas por Washington.

¿ Os EUA, que deveriam pressionar e dar o exemplo, permitiram que se abrisse um precedente muito perigoso ¿ adverte. ¿ Estamos num momento de definição na história do Iraque, é fundamental que as mulheres sejam incluídas agora ¿ acrescenta.

Entre as eleitas, a maioria é composta por independentes, da minoria cristã ou secular. Elas têm até outubro para tentar articular e ganhar apoio à inclusão dos direitos das mulheres no texto da Constituição, que será submetido a aprovação popular.

No entanto, o fato de serem representantes do sexo feminino no Parlamento tampouco é garantia de que se unirão à causa. A ativista, que nasceu em território palestino, lembra que é comum políticos defenderem interesses partidários.

¿ É por este motivo que é fundamental que a sociedade civil, internacional e local, pressione essas mulheres e lhes dê o apoio necessário.

Segundo a pesquisa da WWI, elas devem realmente contar com o suporte das iraquianas. Cerca de 93% querem ter assegurados seus direitos na Carta Magna.

Manal, que atualmente está na Jordânia por questões de segurança, deixou o Iraque em novembro, após passar 20 meses no país. Noutra experiência, no final da década de 90, trabalhando pelas Nações Unidas, a ativista já tinha vivido dois anos no Iraque.

¿ Me lembro de ter perguntado como se sentiam, durante o regime de Saddam Hussein. Da classe mais alta à mais baixa, elas me responderam a mesma coisa: cansadas ¿ conta. ¿ Da última vez que fiz essa pergunta, todas também me deram a mesma resposta, mas agora foi: amedrontadas. No entanto, acrescentaram ter a confiança de que tudo pode mudar, como aconteceu com a queda de Saddam, algo que ia além de seus sonhos. E acredito que enquanto tiverem esse sentimento, serão capazes de promover mudanças.