Correio Braziliense, n. 20648, 04/12/2019. Cidades, p. 18

Greve faz GDF acelerar privatização
Sarah Peres


Servidores grevistas da Companhia Energética de Brasília (CEB) avaliam, na manhã de hoje, a contraproposta da empresa ante as reivindicações dos funcionários. A categoria cruzou os braços ontem, mantendo apenas serviços de urgência, de acordo com o Sindicato dos Urbanitários no Distrito Federal (Stiu/DF). O governador Ibaneis Rocha (MDB) reagiu à paralisação, definindo-a como “injusta”; por isso, quer acelerar o processo de privatização da autarquia.

Entre as pautas da greve estão continuidade do tíquete de Natal — pagamento dobrado do tíquete-refeição de dezembro; prosseguimento dos auxílios babá e creche (esse último prevê ganhos de R$ 1 mil até os dependentes completarem 24 anos); repasse dos lucros e resultados da empresa; o custeio de 100% do valor de medicamentos de uso continuado e 50% dos aparelhos dentários; pagamento de 60% a 90% das férias remuneradas; indenização por morte ou invalidez em acidentes fora do ambiente de trabalho; e aumento da liberação de três para sete o total de dirigentes sindicais custeados pela companhia.

Segundo João Carlos Dias, diretor do Stiu/DF, os cortes de parte desses benefícios pela CEB indica retrocesso no acordo coletivo de trabalho da categoria, de 2018. “A nossa discussão atual é de perder menos, pois não temos nenhum avanço quanto ao reajuste salarial ou de benefícios. Nós cedemos ao longo dos anos pela situação complicada da empresa. Mas tudo tem um limite, e essas reduções esbarram na própria dignidade e nas lutas construídas”, criticou.

Em nota oficial, a CEB informou que, há 10 anos, a empresa não consegue modernizar a estrutura e os equipamentos para manter a qualidade de serviços — inclusive, teve prejuízo de R$ 33 milhões no ano passado. A companhia alega que isso ocorreu porque “paga uma folha excessiva, o que gerou um valor de pagamento acima dos limites regulatórios da Aneel (...), e corre risco de perder a concessão da agência por desequilíbrio econômico-financeiro.”

Sobre itens específicos, como o pagamento do tíquete natalino, a CEB indicou que não tem condições de manter o benefício e propôs, em contrapartida, reajuste do vale-refeição para R$ 1.398 — hoje, o valor é de R$ 1,3 mil). Quanto aos auxílios babá e creche, a companhia destacou que o benefício como é proposto pelo sindicato não privilegia “praticamente nenhum trabalhador da iniciativa privada. (...) A empresa propõe o pagamento de R$ 500 até 6 meses (do filho), além do pagamento do auxílio-creche para (crianças de) até 3 anos.”

“A direção da CEB segue otimista que as partes chegarão a um entendimento, contudo, negociou no limite responsável da sua capacidade financeira, e espera que o Sindicato pondere sobre os itens propostos. Importa mencionar que a empresa tem um plano de contingência preparado para o caso de a paralisação acontecer”, finalizou o texto.

Absurdo

O governador Ibaneis Rocha criticou a greve dos servidores da CEB durante agenda de ontem, afirmando que “estamos no caminho certo quando trato da privatização da CEB. O que nós temos lá são absurdos dentro de acordos coletivos criminosamente feitos no passado. O que eles pedem hoje, do ponto de vista da empresa, é impossível pagar. A greve deles é injusta, penaliza a população do DF em um momento em que a cidade precisa desses trabalhadores. O que eu vou fazer daqui para a frente é acelerar o processo de privatização da empresa”.

A Secretaria de Desenvolvimento Econômico informou que ainda não há dados sobre empresas interessadas em comprar ou assumir a autarquia. Em agosto, no entanto, o GDF assinou contrato de prestação de serviços com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O objetivo é a estruturação do projeto de alienação à iniciativa privada do controle societário da CEB Distribuição. A previsão é de que essa empresa seja privatizada em 2020. Está definido que o governo ficará com participação minoritária de 49%.