Título: Lixo é maior causa de alagamentos
Autor: Guilherme Queiroz
Fonte: Jornal do Brasil, 06/03/2005, Brasília, p. D5

Aquele mau hábito de não se desviar do caminho até a lixeira mais próxima, soltar pelo chão o papel de bala ou a bituca de cigarro que estiver à mão e deixar a sujeira para os garis limparem tem conseqüências mais desoladoras do que a falta de educação do brasiliense. O destino do lixo que escapa às vassouras acaba sendo as galerias e ramais de águas pluviais do DF, que só costumam ser lembradas quando entupidas durante a época das chuvas. São ainda menos notadas quando se tornam a rota do lixo até o Lago Paranoá. Responsável pela manutenção e desobstrução do sistema de águas pluviais, a Novacap não tem números sobre a quantidade de lixo que retira das galerias e dos ramais. Dados da Belacap, entretanto, mostram que 360 toneladas de lixo são removidas das ruas e das lixeiras diariamente pelos garis. O número corresponde a 15% do total de dejetos coletados diariamente no DF, que chega a 2.400 toneladas. Aproximadamente 70 toneladas vêm das ruas do Plano Piloto.

Na época das chuvas, o lixo jogado na rua é um dos responsáveis por um dos principais transtornos sofridos pelo brasiliense: os alagamentos das vias públicas. O problema ocorre, principalmente, devido ao entupimento da rede de drenagem de águas pluviais. Entre junho de 2004 e janeiro último, as equipes da Novacap desobstruíram 20.351 bocas de lobo, das quais 1.813 apenas no Plano Piloto. E não há efetivo suficiente para que todas as ocorrências sejam atendidas.

- Se as pessoas fossem um pouco mais conscientes que a grelha e a boca de lobo fazem parte de um sistema essencial de drenagem, e não uma lixeira, não haveria tantos problemas - analisa o engenheiro da Seção de Manutenção de Drenagem da Novacap, Ângelo Tiveron.

A Belacap identificou seis áreas no Plano Piloto consideradas críticas na conservação do sistema de drenagem. A mais grave delas são as plataformas da Rodoviária. Tiveron conta que a região precisa de manutenção constante devido ao volume de lixo jogado nas grelhas e nas bocas de lobo. No Setor Comercial Sul, por exemplo, alguns ralos das calçadas têm transbordado a cada chuva mais intensa. Ana Cláudia Amorim, ambulante no local, relata que já teve de usar galhos de árvores para desentupir os ralos.

- O pessoal acha que ralo é lixeira de casa, o lixo entope e a gente fica aqui com a água cobrindo os pés. Educação se traz de casa e a maioria não a tem - reclama Ana Cláudia.

O lixo que não pára no sistema de drenagem e que escapa à ação dos garis tem um caminho certo: o fundo do Lago Paranoá. Jogados nas grelhas e nas bocas de lobo, o refugos seguem pelos pequenos ramais de coleta até as redes antes de desembocarem nas grandes galerias, por onde são conduzidos pela força da água das chuvas à orla. O que a chuva leva para dentro do sistema, não há como conter.

- Não se faz nenhum tipo de tratamento ou filtragem nas galerias de águas pluviais. O que entrar por ali, se não entupir, acaba no lago. É um sistema de primeira necessidade que tem de ser preservado, mas falta um pouco de educação à população - critica o secretário de Coordenação das Administrações Regionais (Sucar), Vatanábio Brandão.

Durante a última seca, a Belacap aproveitou a redução no nível do Lago Paranoá para recolher o lixo que havia se acumulado na orla nos meses anteriores e que estavam sob a água. Em três dias de operação, os garis recolheram cerca de 60 toneladas de dejetos e entulho. Segundo o diretor de Operações da Belacap, Expedito Apolinário Silva, havia de tudo, de pneus jogados diretamente nas margens do lago, ao típico refugo de rua, como sacos plásticos vazios ou cheios de lixo e garrafas PET, como as de refrigerante.

- Todo ano organizamos uma operação para a limpeza da orla do lago e sempre achamos muito lixo. A situação é grave. Temos locais em que os garis varrem e quando olham para trás é como se o serviço não tivesse sido feito - queixa-se Apolinário.