Título: Mulheres são maioria nas salas de aula do país
Autor: Karla Correia
Fonte: Jornal do Brasil, 08/03/2005, País, p. A2

Escolarização feminina cresce desde o ensino média até o doutorado

As mulheres são maioria entre os alunos de todos os níveis de ensino no Brasil a partir da educação média até o doutorado. A conclusão é do estudo Trajetória da Mulher na Educação Brasileira, realizado pela Secretaria Especial de Políticas para Mulheres em parceria com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep/MEC) e divulgado ontem em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, comemorado hoje. Os resultados, embora positivos no que diz respeito ao esforço de escolarização feminina, não se traduzem em melhor posição para a mulher no mercado de trabalho, observou a ministra Nilcéia Freire. Ela lembrou que, de acordo com o IBGE, os salários pagos às mulheres ainda são, em média, 30% menores do que os pagos aos homens. - Na média, as mulheres têm entre um a dois anos de estudo a mais do que os homens, ocupando as mesmas posições no mercado de trabalho, mas isso não se reflete nos salários. Paradoxalmente, essa diferença tende a se acentuar quanto maior for o nível de escolaridade da mulher - lembrou a ministra.

Segundo a pesquisa, que analisou dados colhidos pelo Inep entre 1996 e 2003, apenas entre os alunos da educação infantil verifica-se uma ligeira predominância masculina. A tendência se inverte a partir do ensino médio, onde as mulheres representam 54% do número de alunos matriculados no país. No nível de graduação, houve um salto qualitativo considerável para os dois sexos nesse período, mas o crescimento do número de alunas foi mais intenso e a vantagem das mulheres, que era de 8,7% em 1996, passou para 12,8% em 2003. As regiões Norte e Centro-Oeste foram as que mais se destacaram, com saltos de 21,2% para 39% e de 15,8% para 19,9%, respectivamente, na diferença de matrículas favorecendo as mulheres. A participação feminina no corpo docente das universidades mais que dobrou no período examinado pela pesquisa. O número de professoras no ensino superior aumentou em 102,2%. Cresceu também o percentual de mulheres docentes com mestrado e doutorado, segundo a coordenadora geral de avaliação da Educação Superior do Inep, Iara Xavier. De acordo com ela, o número de professoras com mestrado aumentou em 119,4%, entre 1998 e 2003, enquanto o de professores foi de 106,2%, abaixo da média nacional de 112,1%. A performance se repete entre os docentes com doutorado: 104% de crescimento entre as professoras e apenas 69,2% entre os professores. Os resultados da pesquisa servirão para fomentar a discussão sobre políticas de governo voltadas para a mulher, afirmou Iara.

Os problemas enfrentados pela mulher no mercado de trabalho ficam evidenciados quando se observa que apenas 11% das matrículas na educação infantil correspondem a vagas em creches, condição importante para promover a competitividade feminina nesse mercado. Além disso, ainda existe uma concentração muito forte de mulheres em áreas como Humanas, Lingüística e Artes, enquanto os cursos mais ligados a áreas tecnológicas, como as faculdades de engenharia, ou de ciências humanas aplicadas, como Economia e Direito, ainda são dominadas por homens.

- O dado evidencia a existência de uma pedagogia oculta de gênero, que divide desde o ensino fundamental as áreas de dominância de homens e mulheres e, portanto, uma relação desigual entre os sexos - avalia Iara Xavier.