Correio Braziliense, n. 20646, 02/12/2019. Política, p. 4

Bolso cheio e boa avaliação
Augusto Fernandes


O governo federal está convencido de que precisa criar fatos positivos neste fim de ano e deu indícios de que será pela economia que eles virão. Há algum tempo, Jair Bolsonaro tem apostado em medidas para liberar o máximo de dinheiro possível para que os consumidores possam comemorar os feriados de dezembro em situação confortável, e para que o varejo tenha o melhor desempenho — principalmente no Natal — desde 2013. Assim, o Poder Executivo espera aliviar, mesmo que momentaneamente, a pressão sobre o presidente, o que pode resultar na melhora dos índices de avaliação do seu governo, a depender dos resultados das estratégias adotadas por ele.

“Pode diminuir a pressão, sim, pois tão importante quanto os índices numéricos relacionados à economia, é a percepção cultural da população. Uma boa perspectiva pode fazer com que os brasileiros acreditem que vai haver melhorias e, assim, passarão a adquirir créditos e a fazer compras a prazo. Ou seja, começarão a pensar com mais otimismo no futuro, o que é bom para o governo”, analisa o cientista político Enrico Ribeiro, coordenador legislativo da Queiroz Assessoria em Relações Institucionais e Governamentais.

Até o final deste ano, o governo acredita ser possível injetar mais de R$ 20 bilhões no bolso dos brasileiros. Boa parte desses recursos deve ser garantida pelos saques de contas ativas e inativas do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), que já movimentou R$ 15,6 bilhões desde julho. Caso Bolsonaro sancione a alteração promovida pelo Congresso Nacional na medida provisória que permitiu os pagamentos, para que o valor do saque suba de R$ 500 para R$ 998, outros R$ 23 bilhões voltarão à economia.

Na esteira do “pacote de bondades”, o presidente encontrou soluções para todas as classes da população. Para os mais afetados pela instabilidade da economia, Bolsonaro vai instituir, para os 13,5 milhões de beneficiários do Programa Bolsa Família, o pagamento de um “13º salário” — neste mês, cada família receberá o dobro do valor a que tem direito —, o que pode movimentar R$ 2,58 bilhões. Já para aqueles com melhores condições, o presidente autorizou o aumento do limite para compras em lojas francas, os free shops, em aeroportos e fronteiras terrestres do país.

Há, ainda, a medida provisória da Carteira Verde e Amarela, formulada para incentivar a contratação de jovens entre 18 e 29 anos mediante a desoneração de encargos trabalhistas dos patrões. Com o programa, o Ministério da Economia espera gerar 1,8 milhão de vagas nos próximos três anos. Além disso, o pacote prevê medidas de reabilitação de profissionais acidentados, inserção de pessoas com deficiência e estímulo ao microcrédito. Dessa forma, a previsão da pasta é de atender a pelo menos 4 milhões de pessoas, entre 2020 e 2022, ano em que a proposta perde a validade.

“Se a situação econômica melhorar, pode até haver uma diminuição da resistência do governo Bolsonaro dentro do Congresso, pois os próprios parlamentares vão querer se alinhar com quem tem uma boa resposta popular”, explica Ribeiro. “A oposição corre risco de perder capacidade vocal, pois não haverá elementos para contestar, e os deputados e senadores indecisos começarão a apostar no governo”, completa o cientista político.

Processo constante

O plano de Bolsonaro pode ser interpretado como uma maneira de “compensar” o desgaste criado pelo pacote de reformas apresentado ao parlamento, neste ano, sobretudo com a aprovação da PEC da Previdência, pois serve como uma sinalização direta à sociedade de que o governo se articula para tentar fazer a economia avançar. Como ainda levará algum tempo para que os efeitos das mudanças nas regras de aposentadoria e pensão sejam conhecidos, propostas mais imediatas tendem a ter retornos mais instantâneos.

“A aprovação da nova Previdência pode diminuir o impacto fiscal no ano que vem, mas só saberemos no fim de 2020. Portanto, o governo precisa, constantemente, pensar em medidas para sair da estagnação e que possam melhorar não apenas a arrecadação, mas que ativem a economia e gerem expectativa positiva para a população. A popularidade de um governo está intimamente ligada ao desempenho da economia”, garante o cientista político Cristiano Noronha, vice-presidente da consultoria Arko Advice.

Portanto, por mais que as estratégias de Bolsonaro para a reta final de 2019 alcancem o efeito desejado, para o ambiente favorável prosperar, serão necessários resultados duradouros.

“Essas medidas podem trazer algum alívio na economia, com a diminuição do endividamento e a melhoria do crédito, mas demoram a mostrar reflexos impactantes. Elas só vão dar bons retornos se houver sinalização da indústria para voltar a contratar. Caso contrário, será chover no molhado”, frisa Noronha.

Natal positivo

De acordo com a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), 2019 tem o potencial de registrar o melhor Natal dos últimos seis anos. A instituição prevê que o varejo movimente pelo menos R$ 35,9 bilhões, valor superior a 4,8% do total de vendas registrado no feriado do último ano. Em 2013, a taxa de crescimento alcançada no período foi de 5%.