Título: Nas mãos do Congresso
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Fonte: Jornal do Brasil, 08/03/2005, Internacional, p. A8

O futuro político do presidente renunciatário Carlos Mesa está agora nas mãos do Congresso boliviano, onde aliados do partido de Evo Morales, o Movimento ao Socialismo (MAS), têm maioria.

Mas outras forças políticas desejam que o presidente permaneça no cargo, como é o caso do ex-presidente social-democrata Jaime Paz Zamora, cujo partido - o Movimento da Esquerda Revolucionária (MIR) - representa a terceira força parlamentar. É o caso também do líder populista Manfred Reyes Villa, que lidera o quarto maior partido.

Além disso, o principal dirigente da Federação de Cooperativas Mineiras da Bolívia, Walter Villarroel, afirmou que o setor ''está atento para intervir no Congresso'' se este aceitar a demissão.

A sessão legislativa para discutir a renúncia deve ocorrer hoje ou amanhã, pois o Congresso requer uma antecipação de 48 horas para convocar assembléias. A Constituição boliviana prevê a sucessão presidencial em favor do vice-presidente, mas como o cargo está vago (Mesa era vice de Lozada), ele seria ocupado pelo presidente do Senado, Hormando Vaca Díez, dirigente do MIR. Díez poderia governar a Bolívia até agosto de 2007.

Outra opção, se Díez assumir, é a convocação de eleições presidenciais antecipadas, como pediu ontem a poderosa Confederação Sindical Única de Trabalhadores Camponeses da Bolívia (Csutcb), que agrega camponeses aymaras e quechuas, etnias indígenas majoritárias no país.

O problema é que para o MAS, do presidenciável Evo Morales, este não seria um bom negócio, alerta o antropólogo da Universidade George Washington, Roberto Albro.

- O MAS saiu das eleições municipais de dezembro como a maior força política da Bolívia, mas não teve o apoio da classe média urbana, nem das oligarquias de Santa Cruz, que também pressionaram pela renúncia de Mesa. O país ainda tem muitos eleitores céticos que não acreditam que um líder indígena esteja pronto para assumir a presidência e o partido não teria tempo hábil o suficiente para conquistar o voto crucial da classe média, que não faz parte da divisão oligárquica ou rural - afirma.

Segundo o especialista americano, outro desafio do MAS para vencer nas urnas seria ganhar o apoio de outros grupos indígenas - como os guaranis - e locais, como o Movimento Sem Terra, que vive no altiplano boliviano e não compartilha as reivindicações cocaleras dos indígenas da região de Chapare.

- Estamos olhando neste momento para um país sem força política definida. Morales não está certo sobre que caminho tomar, se o das eleições antecipadas ou da militância de base até 2007. Ao mesmo tempo, o MIR não é mais o tradicional partido de outrora, ninguém sabe quem realmente o controla. A presidência boliviana pode se tornar tremendamente enfraquecida ou usar o MAS como apoio. O que vai acontecer é imprevisível - analisou Albro.