Correio Braziliense, n. 20625, 11/11/2019. Política, p. 4
Recriação da base
As leituras feitas por especialistas sobre o impacto da fundação de um novo partido na agenda econômica são divergentes quanto ao nível de colisão. Para o coordenador legislativo da Queiroz Assessoria em Relações Institucionais e Governamentais, Enrico Ribeiro, o choque pode ter um efeito mais relevante sobre a articulação política. Na opinião do vice-presidente da Arko Advice, Cristiano Noronha, o grau será pequeno.
O entendimento de Ribeiro é que o novo partido vai obrigar o governo a recriar a base de sustentação. “Não que o PSL seja grande coisa, mas o impacto eleitoral disso, sim, pois não vai ter recursos do fundo eleitoral. Como vão apoiá-lo sem isso? Sem dinheiro e, possivelmente, prefeitos, vai ter que negociar mais ostensivamente as pautas no Congresso. Será algo muito complicado por conta das eleições municipais”, pondera.
Ribeiro ressalta que há questões muito pontuais nas eleições municipais para a formação das bases para 2022. “O nome Bolsonaro ainda é muito forte nas grandes cidades, mas nas médias, talvez só isso não seja tão forte”, analisa.
Com a Câmara — onde o PSL é maior — mais pulverizada, elevam-se os desafios da articulação. Ainda assim, Noronha prevê um impacto pequeno. “É muito limitado. Essa saída está sendo desenhada e anunciada há algum tempo, e há exemplos de aprovação de matérias a despeito desse conflito interno entre o presidente e o PSL, como a PEC Paralela (da reforma da Previdência)”, sustenta.
O sócio da Arko admite que um aumento da fragmentação no Congresso aumenta mais a dependência dos grandes partidos de centro para o apoio das reformas, mas não muito a ponto de contaminar a aprovação das reformas. “O governo já era dependente do Centrão. Se dissermos que essa dependência vai subir, digamos, de ‘7 para 8’, não sei se isso vai ser grande. Minha aposta é de que seja um impacto pequeno”, justifica.
A projeção de Noronha é que, em um primeiro momento, alguns aliados de Bolsonaro ainda devem permanecer no PSL para a disputa das eleições municipais. “Pode ser que, em um primeiro momento, não haja uma debandada grande. E as pessoas que querem ser candidatos ainda têm a certeza primeiro por qual partido, e, segundo, se decidir criar o novo, se estará viabilizado seis meses antes da eleição após filiar à legenda e concorrer”, explica.
Ritmo
Os obstáculos da aprovação das matérias econômicas, no entendimento de Noronha, estão mais associados ao próprio ano eleitoral. “Como as eleições municipais começam a afetar mais o ritmo do Legislativo no fim de maio, e, em 4 de junho, é a data final para a desincompatibilização e filiação partidária, a janela de oportunidades para a articulação do governo vai entre fevereiro e maio”, explica.
O prazo, no entanto, pode ser ainda mais curto. Em fevereiro, todas as comissões permanentes da Câmara serão trocadas. E, com isso, abre-se uma disputa de poder político-partidária intensa. “Então, talvez, a Câmara, do ponto de vista de comissão permanente, estará paralisada em fevereiro”, acrescenta Noronha. (RC)
O tamanho do PSL
53
Quantidade de deputados filiados
3
Tamanho da bancada do partido no Senado
R$ 245 milhões
Valor previsto para receber no fundo eleitoral do ano que vem. Em 2018, a legenda recebeu R$ 17,5 milhões
R$ 113 milhões
Verba do fundo partidário que terá direito no ano que vem. Em 2018, foram R$ 4,8 milhões. Valor que subiu para R$ 68 milhões em 2019